QUANDO O PAI VOLTOU A SER PAI

A vida nem sempre vem com flores na mão. Quando atira suas pedras, é dor pra todo lado. Essa dor fica tão incrustada na alma que nem Deus tira. Mas aí chega algo mais poderoso que Deus. O amor vem com passos de caramujo, tranquilo feito monge, e resolve virar a dor do avesso. A mesma dor que dizia nunca arredar pé dali. Aquela dor, cheia de motivos pra estufar o peito e dizer que era a maioral, se curva diante desse amor-verdade, desse amor-gigante, desse amor-reconquista. Então a dor fica encurralada, não tem pra onde se esconder e nem, tampouco, fugir. Sua única saída é mergulhar naquele amor pra ver quem é mais forte, quem ganha a parada. A dor que sempre soube machucar, estraçalhar, destruir o que havia de bom, vai com tudo pra detonar o amor. Arregaça os dentes, faz sua raiva sair pelos poros, vira um demônio que assustaria o próprio Demo. O amor não revida, não ataca, não faz nada. Apenas espera. Pois sabe que aquela dor, por pior que fosse, não seria páreo pra ganhar a briga. Daí aquele amor do pai por sua filha agora vai ocupar o lugar que sempre foi seu por direito. Então a dor vai embora de vez. Pra filha voltar a ser filha. E pro pai voltar a ser pai. Como nunca deixaram de ser. Nunca mesmo.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 01/03/2018
Reeditado em 01/03/2018
Código do texto: T6267783
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