Adolescência
Adolescência sempre é descrita como a fase de transição entre a infância e a fase adulta. Entretanto, me parece com uma época meio vaga. Pretendo fazer apenas um recorte do período entre meus dezesseis e dezessete anos. Trabalhava em uma metalúrgica e estudava no período noturno em escola estadual. Foi uma época de descobertas, reflexões e de melancolia. A vida era meio bipolar.
Durante o dia na empresa, eu era animado e me divertia muito com meus amigos. Nos fins de semanas jogávamos futebol e cada um tinha suas aventuras e frustações amorosas.
Na escola, a coisa era diferente. Sempre fui bom aluno e gostava de estudar, menos nesse período. Comecei ter consciência de assuntos que até então eu não tinha dado grande importância. Por exemplo, a quartelada de 1964. Quando aconteceu eu era criança e agora começava perceber sua nocividade. Lia o Pasquim, após o jornal passar por diversas mãos antes. Poucos tinham dinheiro para comprá-lo. Esse era apenas um dos aspectos. Não conseguia prestar atenção às aulas. Desisti. Não fiz algumas provas finais. Fui reprovado. Quase perdi a vaga. A escola era o Américo Brasiliense, a melhor de Santo André. Curiosamente eu não deixava de frequentar às aulas. No final do ano fui retirado da sala de aulas e encaminhado ao anfiteatro da escola. Ao chegar, encontrei alguns amigos, inclusive todos os componentes do Grêmio escolar que fora extinto. Diga-se de passagem, eu não fazia parte. Fomos acusados pela direção com sendo agitadores (logo eu que pouco falava). Citou-se o jornal da escola “O Matraga” considerado subversivo que no máximo, eu ajudava distribuir. Bem, fomos ameaçados de expulsão e até de prisão. Absurdo.
Havia também a minha vida em casa. Morava num bairro operário havia uns dez anos. Lá sim, eu tive muitos amigos até um incidente acontecer. Comecei namorar uma linda menina de belos olhos verdes, irmã de uma vizinha. O primeiro problema foi ser perseguido por um homem e quase tomar um tiro. Era o cunhado dela que achava que eu estava saindo com a mulher dele. Elas eram muito parecidas. Resolvido o engano, outro problema. Descobri que a minha namorada tinha sido namorada de um amigo meu e que ainda o caso não havia sido resolvido. Ela separou-se e dele e tudo resolvido. Só que não. Meus amigos da rua descobriram e ficou claro para eles que eu havia quebrado um regra básica entre nós: “nunca atravessar o caminho do outro”. Ou seja, nunca ficar com nenhuma menina comprometida com outro do grupo. Foi e suficiente. Todos passaram a me ignorar. Na verdade, menos um, o Márcio. O craque do time da rua ( do qual fui expulso). Ele até que tentou aliviar minha situação. Em vão, o que eu fizera foi considerado imperdoável.
O namoro durou apenas alguns meses. Eu andava revoltado com uma série de coisas gerais e específicas e resolvi romper com ela. Ouvi poucas e boas, mas fiquei irredutível. Só então descobri como uma mulher pode ser vingativa. Num dia ao sair de casa para a escola, vejo a própria com novo namorado: o Márcio. Então, eu realmente fiquei isolado de todos no lugar que mais amava: a minha rua.
Depois de tudo isso devo ter ficado intragável em todos os lugares. Talvez isso fez com que meus pais tomassem uma decisão: mudaríamos para o Rio de Janeiro. Mas, essa é uma outra história.