Fundos e mundos...
Torcendo para que continuem constantes e crescentes as contribuições da confraria arcadiana para o enriquecimento de nosso Boletim Mensal,
apraz-me referir particularmente às evocações de vultos de nossa literatura bem como as de reminiscências infantis, respectivamente dos
Árcades Maria Inês e Walter, para , pelo menos nesta edição, propor um singelo contraponto que, pretensioso - é mister admiti-lo: busca unir
essas duas preciosas vertentes de nosso encantamento literário, ou,para ser mais curto e grosso, meter meu bedelho.
Beirando os oito anos de idade, acompanhando a família, mudei-me do bucólico povoado do Brumado para a buliçosa Pitangui, em junho de 1958. A casinha singela que papai logrou comprar e nosso lar a
transformar - e que vai fazer 60 anos de nossa morada por lá, situava-se então num beco-sem-saída, que alternava poeira e lama e que coisa mais romântica não voltei a experimentar.
O lote de nossa casa dava fundos para o chamado então quintal do Senhor Joaquim Queirós, um velhinho de ares rabugentos, sempre
preocupado com algum eventual avanço nosso na divisa, mas nada que fosse além dum ou outro comentário sardônico, que era a essência de
sua índole brincalhona.
O que vim a saber somente há coisa de dois anos, lendo o excelente livro de Bartolomeu Campos de Queirós, Por parte de pai, foi que o celebrado autor, de fama internacional, teve ali também seu
quintal, quando morou temporariamente com o avô, em razão da morte prematura de sua mãe, e que muito dessa sua opus magna passou-se ali.
Não creio que tenhamos, contudo, sido contemporâneos, pois mais antigo que eu, Bartolomeu mudou-se para BH, onde se tornaria figura de proa de nossas letras. O fato é que, graças principalmente aos esforços de mamãe, acabamos "invadindo" - legalmente, é bom que se frise - os antigos fundos do Senhor Queirós.
Por décadas, papai muito plantou e colheu nessa seara: laranjas, bananas e até café. Mas acho que o jenipapeiro esguio e austero lá sobrevivente e que a nós ambos terá visto por lá estripulias obrar e muito o solo adubar , guarda muita história do menino Bartolomeu, ídolo meu...