a colmeia dos homens

Salto do ônibus, agora um pouco mais distante da rua que conduz à minha casa. O ponto teve que ser mudado em virtude de uma obra iniciada que ocupou a calçada com os tapumes. Transtornos provisórios que trarão benefícios duradouros. Por um terreno baldio já se criou um atalho, só possível porque alguém anônimo teve a ideia de improvisar no barranco que antes obstava a passagem utilizando pneus velhos cheios de terra como degraus uma bem ajambrada escada de acesso. Tão logo atinjo o asfalto da rua de cima, fazendo uma prece silenciosa pelo autor da engenhosa escada ocorre-me uma ideia muito confortadora: o mundo ainda está cheio de pessoas que trabalham para o bem comum.

Sou tomado por súbita sensação de bem estar. Ao olhar para esta cidade que vi crescer fico pensando em quão ínfima foi minha contribuição diante da imensidão de benefícios de que usufruo quase sem notar e me apercebo que sem o esforço conjunto de milhares e milhares de outras pessoas nada seria possível. É admirável o poder da vontade humana e a força da vida em comunidade. Venho pensado no mistério que mantém irmanados seres às vezes tão diferentes e na riqueza originada dessas diferenças. Cada um com seus dons, suas aptidões e talentos, sua originalidade, é responsável pela construção de um mundo que tende a ser melhor a cada dia para aqueles privilegiados que alcançam a compreensão de que somos todos interdependentes.

Dependemos não só de nossos conterrâneos, ou de nossos contemporâneos. Penso nos grandes homens e mulheres que passaram pela terra em todas as eras de nossa história, em todas as partes do planeta, que deixaram a sua contribuição nas ciências, nas artes, nos mais diferentes ofícios e ocupações. Imagino o tamanho da dívida com que nasci há pouco mais de meio século. Dívida para com a Humanidade que, por mais que eu trabalhe, por mais que eu produza, jamais serei capaz de saudar completamente. Vejo a multidão que transita por estas ruas e penso nas muitas necessidades de cada indivíduo que, bem ou mal, são satisfeitas diariamente. A roupa, o calçado, o alimento, o transporte, a saúde, a educação, a segurança, o lazer, a cultura. Quando reflito que tenho todas essas coisas e que milhares, milhões de pessoas estão sempre em contínua atividade para que eu as possa ter, é que esbarro na minha pequenez e na insignificância do que tenho oferecido em troca.

Concluo satisfeito que uma boa maneira de viver mais serenamente e com mais esperança é procurar enxergar esse lado bom da humanidade. Procurar ver em cada homem, em cada mulher, não um adversário, um inimigo em potencial, mas um parceiro, um colaborador, seja ele simpático ou não, meu correligionário ou não, é sempre alguém que está contribuindo com sua parte para o bem estar de todos. Aos que se perdem pelo caminho talvez tenha faltado essa compreensão.

Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 28/02/2018
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