A FLOR DA MEIA NOITE.

É fim de tarde, vinte e sete de fevereiro, o dia começou preguiçoso, o sol esgueirando-se entre as nuvens, uma brisa fria e suave zunindo na orelha, no quintal da minha casa, encho os pulmões com o ar gelado da manhã, sem muito entusiasmo, sem muito ânimo, sigo para mesa do café, na minha cabeça mil pensamentos desconexos.

No café da manhã, apenas alguns pães, bolachas secas, e algumas frutas velhas. Há tempos não consigo comer nada pela manhã, apenas tomo uma boa xícara de café, sendo seguida por um extenso e maravilhoso silêncio, longo, no entanto maravilhoso. Como disse anteriormente, os pensamentos desconexos, vez ou outra se centralizam em uma determinada imagem distorcida na tela da mente, e dessa vez não foi diferente, lá estava o beija-flor, aquele mesmo de outrora. A luz do sol banhando suas asas reluzentes, olhinhos pequenos, negros como a noite. Sua beleza, seu encanto, sua altivez, tudo enfim, chamou a minha atenção, na verdade, me hipnotizou, me controlou, me destruiu por inteiro, fez desse fraco coração pedaços incontáveis, eu a amo… Sim… Eu a amo, como todo poeta enlouquecendo e enlouquecido ama. Sim eu amo esse beija-flor.

Ela é a flor da meia noite

Ela é incerteza

Ela é canção

Ela é loucura

Minha doce paixão.

As vezes eu fico observando o beija-flor, e, por alguns minutos - ou talvez segundos, essa majestosa ave parece desejar-me também. Como eu disse anteriormente, foi coisa de momento, da minha cabeça talvez, certo é, que na sua quietude, ou inquietação, essa ave ligeira e de vôos rasantes, de penas reluzentes, a muito tem tirado o meu sono e minha tranquilidade.

O dia no entanto, seguiu seu curso, dia que também pareceu incerto, ora quente, ora frio, às vezes com nuvens pesadas, e por outra com nuvens pequenas. O céu se modificando a cada minuto, enquanto eu, incerto, escorregava de um canto a outro em meu castelo de cristal, prisioneiro de mim mesmo, em minhas masmorras de solidão. Meus desejos, são igualmente aos pássaros, assemelha-se muito ao beija-flor. Livre como tal, inquieto também, desejoso de algo que ele mesmo não compreende. Enquanto vagueiam na mente todos esses pensamentos imperfeitos, o dia foi se despedindo sutilmente, o fim de tarde aos poucos deu lugar a noite, e as estrelas tomaram conta do céu escurecido. O beija-flor, continua a vagar por aí, indo e vindo, livre, mas ao mesmo tempo preso em seu indeciso e complexo sentimento.

Ela é o amor

Ela é o clamor

Ela é a ardência

Ela é o beija-flor

Meu tormento

Minha desejada doença.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 28/02/2018
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