UM DIA...

Um dia, começaram a perseguir os LGBT’S

Eu poderia ter feito alguma coisa,

mas nem me preocupei

eu não sou LGBT

Depois, começaram a perseguir os comunistas

Eu poderia ter feito alguma coisa,

mas nem me preocupei

eu não sou comunista

Depois, começaram a perseguir todos os militantes de esquerda

Eu poderia ter feito alguma coisa,

mas achei foi bom

eu não sou “esquerdopata”

Depois, começaram a perseguir os favelados

Eu poderia ter feito alguma coisa,

mas nem me preocupei

eu nunca morei em favela

Depois, começaram a perseguir todo tipo de minoria e de vida marginal

Eu poderia ter feito alguma coisa,

mas nem me preocupei

eu sempre estive do lado da maioria

Depois, começaram a perseguir a liberdade de pensamento e de expressão

Eu poderia ter feito alguma coisa,

mas nem me preocupei

eu não sou intelectual nem artista

Depois, começaram a perseguir os incrédulos

Eu poderia ter feito alguma coisa,

mas nem me preocupei

eu sempre fui crente

Depois, começaram a perseguir quem dizia que não havia mais a quem perseguir

Eu quis que alguém fizesse alguma coisa

Mas...depois de tantas perseguições (bem sucedidas)

só restavam dois grupos de pessoas:

o das que achavam que tinha que continuar perseguindo

e o da que queria que alguém fizesse alguma coisa

Depois, tudo que eu queria era fazer alguma coisa

mas me dei conta que

não havia mais como fazer nada

não havia mais para quem fazer nada

não havia mais quem pudesse fazer nada

Foi, então, que eu percebi que

eu não era LGBT

eu não era comunista

eu não era “esquerdopata”

eu não era favelado

eu não era minoria (e já não era mais maioria)

eu não era intelectual nem artista

eu não era incrédulo...

eu não era nada

Mas, aí [também]

já não adiantava nada.

P.S.:

Não ter posição política, por mais paradoxal que pareça, é uma posição... e é política.