Hierarquia apostolar...?

Sabemos todos, pelo Evangelho, que Jesus fez de Pedro o seus sucessor entre os doze Apóstolos. E que, por sua traição, Judas Iscariotes, pegou a rabeira da turma, chegando até a se enforcar de puro arrependimento.

Mas e os demais do grupo, pela sua atuação, pelas suas origens, ou da forma que são retratados nas sacras escrituras, ou nas pregações evangélicas, ou até mesmo na posição que ocuparam durante a Santa Ceia, teriam também a sua ordem de precedência?

Parece-me parca a literatura que nos guia sobre esse assunto. Pelo menos para o meu mais parco conhecer, e a não mais que superficial curiosidade, de dois anos vividos no seminário, compartilhados, é claro, com tempo para estudos, recreação, refeições e disciplinado silêncio, que dificilmente dava vantagem à contemplação sobre o devaneio juvenil.

Um painel que se exibe nas paredes da Capela dos Apóstolos na Basílica de Aparecida, a que tive acesso por meio de uma bela e recente publicação em português e inglês, em pintura de traços simples, estilizada, homogênea e bastante evocativa, lança-me luz à reflexão, que até aqui, caminhava no quase breu meu de ateu.

Nela, o desditado Judas Iscariotes já não figura, substituído por Paulo, que tendo vivido séculos após seus atribuídos pares, é considerado como o pilar mais robusto da evangelização cristã.

Na imagens aparecidas em Aparecida a uniformidade nos hábitos, nos halos e postura impressiona-me vivamente, com destaque contudo, para João e Felipe que tem cortes de golas ligeiramente distintos de seus colegas de apostolado. Também, no quesito das mãos, Bartolomeu e Pedro só mostram a sua direita, porquanto todos os demais, excetuado André, que não mostra nenhuma, mostram-nas ambas.

Em critério quiçá mais objetivo à análise, pode-se identificar à primeira vista o que trazem às mãos: Pedro, as chaves do céu - duas por sinal, que podem ser a da entrada e da saída, ou tão-somente a da entrada com sua cópia; Bartolomeu, um ramo de oliveira; Simão, o Zelote, que traz, aparentemente, o incenso, contido num turíbulo fumegante; João, vem com o livro, em cuja capa se lê Logos, que em grego, significa saber; Tiago Maior, com um distintivo que lembra uma pequena coroa; Judas Tadeu, uma medalha; Felipe, também com um livro, com a inscrição ABBA - que pode muito bem ter inspirado quase dois mil anos depois, o grupo musical sueco a produzir tão belas canções; André, previdente, carrega pães; Mateus, também com um livro, já na versão em português, Segue-me; enquanto Tiago Menor, Paulo e Tomé, de mãos vazias, mantêm gestual de bênção e de atitudes pias.

Os estilos de cabelos e de barbas, de aparência inspirada na estatuária romana de sua contemporaneidade, variam profusamente, e a calva de Felipe e Paulo, prematuras por sinal, não parecem tirar o vigor, a sapiência, a serenidade e, sobretudo, a juventude, dos seguidores de Jesus.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/02/2018
Reeditado em 27/02/2018
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