Um cachorro atrás do próprio rabo
Eu me virei na cama e disse.
- talvez eu seja como um cachorro correndo atrás do próprio rabo. Achando que estou correndo atrás dos meus sonhos e do que eu acho que contém minha felicidade.
Só que hoje eu decidi parar de correr e uivar para a lua enquanto ela ainda está no céu.
Ela deixou escapar uma risada e se sentou ao meu lado.
- no que você estava pensando antes disso?
- Que eu ainda estou aqui... no mesmo lugar que estava no ano anterior, e no ano anterior a esse. Me lamentando por não ter coisas que talvez não sejam para eu ter nessa vida.
- Já te disse várias vezes que não concordo com essa tua visão. Não acho que você esteja no mesmo lugar.
- No fundo é o que eu estou sentindo.
- Já pensou que talvez você goste de se sentir assim?
Sei que é estranho dizer que uma pessoa possa gostar de estar melancólico. Mas você vê tira sua poesia dessas coisas. Acho que a melancolia já se tornou parte de você.
Fiquei calado, pesando e absorvendo suas palavras. Mesmo não sendo a primeira vez que eu ouvi algo parecido.
- não é como se eu gostasse disso.
- Tudo bem. Não vou questionar.
Ela sorriu, mas eu percebi que ela se preocupava com o que estava sentindo.
Eu a enlacei pela cintura e apoiei minha cabeça em seu ombro.
Ficamos calados até que minha barriga roncou. E a dela logo após isso, como se concordasse com o que dizia o meu estômago vazio.
Caímos na gargalhada quase que imediatamente.
- Vou botar uma pizza no forno.
- Bota duas - ela respondeu. - Senão vou querer comer sua parte.
Concordei com a cabeça e caminhei para a cozinha, me perguntando se ela estava certa no que havia dito a meu respeito.
Realmente, esse tipo de melancolia já fazia parte de mim,
o que no fundo, não era algo ruim.