Ah, os nossos empresários - II

Cláudio Thomás Bornstein

Eu trabalhava para uma instituição que estava fazendo um estudo para as empresas de ônibus do Rio de Janeiro. A ideia era dar sugestões para um uso mais eficiente do transporte público e um dos problemas identificado foi a longa fila para entrar no coletivo. Como a roleta ficava muito perto da porta de entrada, o espaço era exíguo, de forma que para um novo passageiro entrar era preciso um outro passar pela roleta e esta operação levava tempo o que explicava a fila. Devo acrescentar que tudo isto se passa em uma época em que não havia bilhete único, cartão de idoso, gratuidades, etc. o que tornava o serviço ainda mais lento.

A sugestão óbvia era deslocar a posição da roleta mais para o meio do carro. Foi feita uma reunião com os empresários explicando a proposta. A rejeição foi imediata e a oposição enérgica. Argumentou-se que a evasão, isto é, passageiro sem pagar, ia aumentar muito, causando prejuízo.

Para verificar se a objeção tinha fundamento resolveu-se montar um experimento, colocando um ônibus para rodar alguns meses nas condições preconizadas, isto é, com a roleta deslocada. O veículo foi monitorado e findo o período de teste verificou-se que, de fato, a evasão aumentava um pouco, mas que isto era largamente compensado pelo aumento do número de passageiros transportado. Ou seja, face ao menor tempo de espera nas paradas, para igual período, o ônibus do protótipo levava mais pagantes, o que aumentava a receita.

Nova reunião para explicar os resultados do experimento. Não adiantou. Mais importante que o aumento do lucro era a demonização da evasão. Alguém entrar no coletivo, viajar e não pagar, era pecado que não podia ser permitido de forma nenhuma. Que o custo do pecado fosse pago pelo empresário e pelos outros passageiros, por aqueles que nada tinham a ver com a evasão, pelo trabalhador ordeiro que só queria chegar logo no serviço, isto era secundário!