Eu te batizo, Izabel, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Dezesseis de dezembro de 2015, quarta-feira.
O dia sorriu para mim muito cedo. Parecia querer me dizer algo, mas eu ainda não era capaz de compreender os seus sinais. Talvez por falta de atenção, talvez por desinteresse. Talvez por isto ou aquilo, talvez por nenhum dos dois. O tempo corria com pressa e me atropelava quase sempre. Ora correndo, ora arrastando-se... Mas nunca, em hipótese alguma, se esquecia de mim.
Esse dia, em especial, me deixou um ensinamento cruel. As primeiras horas voaram, mal as vi passar. Rotina comum de uma estudante prestes a entregar o trabalho de conclusão de curso. Lutava contra o relógio para conseguir terminar aquele maldito trabalho a tempo! Tal atividade, por vezes, me roubou os finais de semana com a família. Mas era por uma causa maior, repetia para mim às vezes tentando me convencer de que no final todo aquele sacrifício valeria a pena. Pobre coitada... Se eu soubesse antes o que sei agora, não teria desperdiçado tantos sábados e domingos distante dela.
Todos aqueles anos que dediquei aos estudos, ao trabalho, aos sonhos, às ideologias... agora não passavam de uma ridícula perda de tempo. Já não importava sequer continuar a insistir nas mesmas ambições de outrora, já não havia razão. É engraçado como às vezes a gente não sabe dizer muito bem se a vida é ou foi.
Havia acabado de entregar o último capítulo da monografia. Dali a cinco dias já podia me considerar devidamente graduada. Eu seria a primeira da família a obter o diploma de ensino superior. Encheria o coração de minha amada mãe de felicidade, ela levaria consigo a sensação de dever cumprido e se orgulharia profundamente pela conquista de sua filha. Mas o destino, ou Deus, ou a vida, ou seja lá o que for, age de tal modo que parece zombar de nossos sonhos. Recebi a tão temida mensagem por volta das 18 horas. O texto não dizia claramente do que se tratava, mas eu já sabia, não aceitava, mas sabia.
Após duas longas e terríveis horas de viagem, a confirmação: desci da moto e andei até a minha casa. Na calçada, minha cunhada e sobrinhos. Àquela altura eu já não era eu. Era outra coisa, era qualquer coisa, era quase nada. Andei até a sala meio entorpecida e então desabei. Era a minha mãe. Ali, imóvel e fria. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Não era justo com ela, nem comigo. Nem com nenhum dos filhos e netos. Não era justo, nem certo. Eu não sabia a quem culpar, mas culpava. O meu pior pesadelo agora era realidade e a partir dali a minha vida seria qualquer coisa, menos vida.