Pobre Também Come Galinha
Quando mudei para BH, no comecinho dos anos 60, comer galinha caipira não era para pobre. Havia até um ditado; “ Pobre quando come galinha, um dois está doente”. Naquela época ainda não existia, pelo menos no Brasil, os tais galináceos de granja.
Desde aquela época já havia os moradores de rua, eram pobres que viravam mendigos, os chamados “Lumpemproletariados”.
Galinhas e frangos caipiras estavam arrolados no mesmo termo. Vinha do interior mineiro, em engradados apertados, em caminhões de estradas de terras em péssimo estado, literalmente, tomando solavancos, intenso calor, muitas chegavam mortas. Daí, era a festa dos moradores de rua, quase saiam no tapa para pegar galinha morta perto do Mercado Central. As aves mortas era colocadas em grandes tambores para a Limpeza Pública leva-las para o aterro sanitário. Mas antes do caminhão do lixo passar, já era alimento para aqueles pobres infelizes.
Um dia passando perto do Rio Arruda, que corta o centro da cidade, vi um grupo de mendigos cozinhando em uma lata de querosene, mais ou menos umas 5 galinhas. Um deles tinha uma garrafa de pinga numa mão e uma coxa de galinha na outra, bebia no bico. Me abalei psicologicamente com aquela cena. Fixei um triste olhar para aquele infeliz. Ele se irritou; “ Tá oiando o quê? Não robei! Pobre tameim come galinha! Tá sirvido Dotor?!
Dei-lhe um adeus e fui embora pensando: Será isso vontade de Deus?
Lair Estanislau Alves.
A Tempo: “Lumpemproletariado”
Política, sociologia, segundo a doutrina marxista, camada social do proletariado que vive na miséria e se caracteriza pela ausência da consciência de classe. Consultei no Google.