UM PAÍS CHAMADO BRASIL

Daqui a mil anos, quando a Terra já tiver sido destruída e os terráqueos transferidos para um planeta de outro sistema solar, contar-se-á a seguinte história:

Era uma vez um país chamado Brasil, formado por burocratas espertos, políticos corruptos, empresários otários e povo inocente.

O regime político era monárquico, com disfarçados títulos de nobreza, constituído de um rei: o presidente da República; duques: os senadores; marqueses: os juízes e os governadores; condes: os promotores e os deputados federais; viscondes: os deputados estaduais; e, barões: os vereadores.

Uma infinidade de funcionários públicos trabalhava para manter o aparato da realeza: uns, abnegados serventuários que foram aprovados em disputadíssimos concursos; outros, meros lacaios que chegaram lá por indicação, com a missão de obter apoio popular através da compra de votos. Existiam também poderes paralelos como a Igreja, dividida em vários credos, e o Exército, subordinado ao rei. Um terceiro poder, a Imprensa, com expressivo grau de influência, não deixava de mamar em polpudas verbas governamentais reservadas à publicidade. Porém, os membros da corte, sem exceção, eram sustentados pelo povo.

O sistema revelava-se mais perverso do que a maioria dos reinados da Idade Média. A nação inteira simulava uma aparência de liberdade e fingia que todos eram iguais perante à lei.

O confisco fiscal chegava perto da casa dos 50% do que se produzia e destinava-se em quase sua totalidade para nutrir as mordomias, sobrando exíguos recursos para serem aplicados no bem-estar dos cidadãos. Considerava-se normal o uso de super ou subfaturamento por empresas que trabalhavam para o governo. Os valores surrupiados eram compartilhados com os cortesãos.

Os príncipes, filhos da aristocracia, frequentavam escolas caras e de boa qualidade, enquanto os da pobreza, em deficientes educandários públicos. No ensino superior, ocorria a inversão: os ricos estudavam de graça em universidades mantidas pelo poder oficial e os pobres, – somente aqueles que conseguiam galgar tão elevado nível –, em faculdades onerosas e particulares. Realmente, não havia interesse entre os palacianos em disseminar a cultura, porque gente culta só traz complicações. Formariam uma multidão de contestadores que teria opinião própria e geraria aborrecimentos ao regime. Além do que, em população instruída e consciente, não haveria espaço para corrupção e suborno. Ninguém furaria fila, não passaria com sinal fechado no trânsito, nem usaria propina para levar alguma vantagem.

A classe dominante dispunha de uma moderna estrutura de saúde com hospitais e laboratórios que figuravam entre os mais bem aparelhados do planeta, enquanto os vassalos mofavam na lista de espera de um malsucedido programa denominado SUS.

No meio dos súditos, umas mortes a mais ou a menos faziam parte do cotidiano. No entanto, a segurança mostrava sua competência quando algum fidalgo percorria o pais ou em eventos internacionais, tais como: megashow, copa do mundo ou olimpíadas. Se alguma desgraça, por ventura, atingisse alguém da corte, a indignação seria geral.

Na verdade, os investimentos em Educação, Saúde e Segurança estavam relegados a um plano secundário, visto que eram reconhecidos como setores de pouca utilidade. Não traziam a mesma felicidade para a população se comparados com o prazer de saborear a vitória de seu time de futebol ou de desfilar em uma escola de samba.

E os plebeus aplaudiam os nobres, os reverenciavam, os alcunhavam de autoridade, desde que lhe sobrassem algumas migalhas vindas através de um amparo assistencialista intitulado de Bolsa Família e, claro, que tivessem liberdade para festar. Ali, tal qual se dizia na Roma antiga, a plebe se satisfazia apenas com pão e circo.

Então, era assim que se vivia na terra dos Tupiniquins, um país abençoado por Deus, bonito por natureza, porém subjugado a governantes classificados como gigolôs do povo.