Palhaços

O ódio não deve continuar como o motivo maior de todo riso nos dias atuais.

Foi o que pensei durante os longos minutos, talvez horas, em que assisti ao discurso do líder político. Falou de tudo um pouco. Depois imaginei o palhaço do circo. Diferenças não as percebi entre eles. Creio que, ambos têm suas semelhanças explícitas. A principal é de como esses sujeitos querem aparecer. Fazem o máximo para se destacar nos cinco por cento do espectro visual visível dos nossos olhos. A pior semelhança, no entanto, é o ensinamento constante de como odiar tudo. Nos ensinam a ter fúria em várias ocasiões. Se é num estádio de futebol vão logo invadindo o gramado para bater no adversário em campo, quando não o juiz ou bandeirinha, ou arrebentam a cara do vizinho com camisa que não é do seu time. É também da lógica do jeito de ser do palhaço, o aprontar contra seu "partner" ou contra si mesmo, num momento tão banal, que gargalhar é melhor reação do que bater, brigar, estapear,esganar ou socar. Assim também o político deveria falar bobagens ou mostrar seus atos atrapalhados e, nós então, rolarmos de rir pelo chão.

Pena que refleti tarde. De início, tive um nojo de tudo isso, depois veio o ódio. Riso nunca. Deveria rir, mas tive raiva mesmo, por viver num presente fugaz, em que tenho muito mais passado do que futuro , compartilhado de um esquecimento voraz, não sei como explicar, talvez parecido com um prazer de não lembrar daquilo que me faz crer quanto tolo sou ou fui. Só que, pouco depois, por não lembrar também das boas coisas, fico enfurecido pelo sentimento de medo de jamais rever os momentos esquecidos. Acho que nessa altura da minha idade, ando mesmo enfezado com tudo e com todos por motivos fisiológicos, aquilo conhecido popularmente como prisão de ventre.

Enfim, penso não ter tempo a perder com os palhaços mal maquiados nos líderes prolixos.

Mundo estranho é este em que nos ensinam a odiar tanto, que não são mais os triângulos amorosos que originam guerras, mas só o querer acabar com algo ou alguém, o que verdadeiramente movimenta toda essa incompreensível história humana.