Crônica de Itacaré
 
Os dias que passei em Itacaré foram contraditórios. Não, não foram os dias nem a beleza ao redor. Os dias são como são. A ambivalência é que emergiu das profundezas do meu ser.

Era para ser apenas um passeio. Ver o mar, que há anos não via. Foi o desejo de ver novas paisagens. Queria ficar só, dialogando com as minhas incertezas. Impossível em Itacaré, com tanto chamamento. Convites irrecusáveis. O mar e seus mistérios; moquecas e bobós; a rua Pituba nos convida ao consumo; e o forró em vários pontos: Mar & Mel, Bistrô...

Foi diante da imensidão do mar, que o amor se revelou, enquanto a brisa acariciava minha pele. Havia também os coqueiros, que continuam lá. O mar é um poema imenso. Uma odisseia e não deu a mínima às minhas dúvidas. Me perdi em devaneios em meu revoltoso mar interior. Ao lado estava uma mulher calada. Olhei-a discretamente de soslaio. Cabelos negros e longos, pele azeitonada, mirava o mar sem notar a minha presença. Deixei-a em sua quietude e continuei refletindo sobre o amor. Por um tempo impossível de ser medido eu amei esta mulher e talvez a amasse para sempre. Enquanto isso as ondas iam e vinham. Fortes e suaves. Como deve ser o amor.

Havia um mar dentro de mim.


Imagem: JP