As Copas em Minha Vida (III)
No capítulo anterior, contei sobre minhas peripécias em 1986 e chegamos agora em 1990.
Para mim especialmente tive um ano escolar bastante atribulado. A matemática nunca me deixava em paz e quase sempre tomava cano nas provas. Era triste aquilo tudo pra mim.
Já nas aulas de Educação Física lá no Fernando Treptow, sempre ia jogar no gol seja no futebol ou no handebol e até que não fazia feio. Só voltava pra casa todo ralado porque a quadra não era de terra e sim de concreto. E aquilo machucava pra caramba.
Enquanto isso acontecia, lá fui eu assistir a mais uma Copa do Mundo pela televisão, dessa vez na Itália.
Era uma Copa que prometia jogos muito bem disputados e uma exibição de talentosos craques como Maradona, Francescoli, Matthaus, Gullit, Van Basten, Careca e tantos outros que já faziam parte do meu cotidiano graças as transmissões dos jogos do Campeonato Italiano pela Bandeirantes feitas pelo saudoso Luciano do Valle e pela dupla de Silvios – o Luís e o Lancellotti, que comentava cada jogo com conhecimento de causa.
Assim é claro como o futebol. Isso nem precisava dizer que influenciava meu cotidiano também.
Vi naquele ano, o Brasil fazer uma campanha até certo ponto medonha. Você vai me dizer assim: “Como tem a coragem de dizer isso se o Brasil venceu todos os jogos do seu grupo naquela Copa?”
Os números realmente foram bons, tenho que admitir, mas de jogo jogado e qualidade técnica, a campanha do Brasil foi péssima.
Alas, líbero, 3-5-2, tudo era aramaico pra mim, com todo respeito as pessoas que falam aramaico. Para um adolescente de catorze anos como eu, o objetivo era dar espetáculo e fazer gols como a maioria da turma fazia nos joguinhos lá na Cohabduque.
Se bem que no geral, os jogos da Copa de 1990 eram tão bocejantes que em muitas ocasiões, eu largava tudo no fim do jogo e descia para ir a praça encontrar com o pessoal pra jogar o verdadeiro futebol, a verdadeira essência desse esporte que tem como objetivo marcar gols e não ficar entrincheirado na defesa como se estivessem lutando na I Guerra Mundial.
Parafraseando Carlos Caszely, um dos melhores centroavantes que o Chile já teve, os jogadores pareciam onze morcegos dependurados na trave.
Lembro-me ainda que cada vez que o Brasil vencia uma partida naquela Copa, o meu pai jogava fogos de artifício pela janela pra comemorar as conquistas. E olha que nem vou falar aqui das pipocas que eram servidas a cada jogo.
Isso tudo até chegar ao fatídico jogo contra a Argentina no dia 24 de Junho de 1990.
Naquele dia, a Seleção Brasileira jogou como até então nunca havia jogado naquela Copa.
Porém, aquela bola era tão caprichosa quanto uma mulher se arrumando para ir a uma festa ou a um jantar romântico.
Ou batia na trave, ou o Goycochea (sim, aquele mesmo que jogou no Internacional em 1995) defendia ou ia pra fora.
Mas eu, na minha fé de torcedor, acreditava que o gol sairia a qualquer momento pelo volume de jogo que o Brasil apresentava.
Contudo, a bola puniu. E com requintes de crueldade.
Uma única jogada de Maradona que estava com um dos seus joelhos em frangalhos foi o suficiente para que Cannigia marcasse o gol que desclassificaria o Brasil mais uma vez de uma Copa.
Os fogos de artificio foram guardados num canto do quarto, o sonho acabou e lá fui eu jogar bola no campinho com meus amigos decepcionado mais uma vez com nossa Seleção.
Afinal, não é nada fácil ser eliminado justamente pela Argentina.
E me perguntava se veria um dia na minha vida o Brasil ser campeão de uma Copa do Mundo. Quem sabe se em 1994 não aconteceria isso? Mas não quero dar os spoilers pra vocês agora, se bem que já sabem mesmo o desfecho dela.
Nesse meio tempo, me formei no primeiro grau em 1993 dando um passo a mais na minha carreira escolar.
A saga continua.