A CRUZ E A CONSCIÊNCIA.
Pende do Gólgota a forma do sofrimento sem resposta consciente. Ninguém sofre sem causa eficiente.
O Homem-Deus, que tinha a visão do início informe das coisas em matéria, sabia ser a inteligência o meio do amor transformar e conscientizar essa mesma inteligência e amenizar os seres dotados de razão, ultrapassado o instinto e a simples matéria. Colocou beleza para os olhos da razão, emplumou as aves, fez o canto da natureza ter sons sedutores, vestiu as flores de encanto, revestiu os montes da brancura que sinalizava paz.
A consciência recusou viver nos caminhos da serenidade como desenha a natureza em sua transformação. Continua a recusar. Lava em sangue e desamor a fraternidade pela qual se imolou em nome da irmandade o Cristo, se repete a cada dia sua crucificação pelos grilhões das liberdades de variadas formas retiradas que adensam o tempo. E reprisa-se o desrespeito aos individuais direitos, aqui e no mundo.
O calvário de Jesus permanece. Dante Alighieri, o grande florentino construtor das "bolgias" e dos círculos do Inferno, descreve essa saga na Divina Comédia. O destino foi severo com os que negavam a caridade devida a todos no reconhecimento, ao menos, de seus direitos de dignidade como estrutura básica.
Continua a jorrar profundamente do Calvário o sangue da consciência repelida.