Plataforma 18

Nos alto falantes daquela rodoviária caótica, a voz tranquila anunciava que o meu ônibus chegara à plataforma, era quase monótona, parecia uma voz de outra galáxia, completamente em contraste com a agitação da massa corporal que era aquele local.

O meu café havia esfriado, assim como a noite que lentamente avançava em seu negro impenetrável e sua mística soturna. A poucos minutos me despedira daquela que era o motivo de uma jornada tão longa, aquela que era responsável por fazer-me cruzar toda uma noite para ter a sua presença.

Ela sorria enquanto se despedia, os seus grandes e belos olhos pareciam agitados, mais cedo chorara pensando nesse momento, mas ali, na hora derradeira, estava tão tranquila, tão serena...

Enquanto passava pelo embarque, com aquela mochila pesada comecei a sorrir para conter a vontade eminente de chorar. Afinal era tão irônico, parece que passara toda minha vida em rodoviárias, chegando e partindo delas, esperando, sendo esperado... Parece que todos os meus motivos de felicidades (e tristezas) provém disso... Desse cheiro de diesel, gasolina, pneus gastos, poltronas frias, cortinas ralas... Tudo nisso parece ter uma vida, e com essa vida, parece que um pouco da minha também se desprendia, para ficar atrelada à essas rodoviárias da vida, o meu constante ir e vir, esperar e seguir.

De fato, meu corpo cansado queria poder sentar um pouco, espreguiçar, seria uma longa volta para o lar... Mas afinal, não era ali o meu lar? Ao menos não ainda. Então... Como aquela gigantesca cidade me seduziu? Será que só o fato dela habitar ali era suficiente para desarmar-me de todos os meus medos e receios?

O senhor foi simpático, recolheu minha passagem, pediu minha identidade, me disse “boa viagem” E embarquei. Ora, que ironia, eu realmente tinha que sentar atrás de um casalzinho... A minha mente ia e vinha constantemente, e se perdia no caminho. Eu estava tão perto dela naquele momento, eu poderia sair daquele cativeiro sobre rodas e correr até aquele condomínio aconchegante. Será que ela teria sorrido ao abrir a porta e se deparar comigo? Será que teria saltado em meus braços e me derrubado no chão?

Aqueles dias foram de uma paz... de uma tranquilidade infinita, acho que até ali, nunca sentira tal felicidade. Mas era hora da partida... Eu estava sozinho agora, e quando aquelas formas metálicas começaram a se mover, rompeu dentro de mim a represa de minha alma. Devo dizer que fora impossível conter cada uma de minhas lágrimas quentes. Pareciam tão pesadas sabe... Eu as sentia batendo em meu peito, rasgando minhas faces... “Eu não queria partir” Foi a única coisa que ficou repetindo e repetindo como um carrossel pitoresco pintado em minha mente, rodopiando como um vinil de uma única faixa.

Ali fora o fim. De alguma maneira eu sabia que era a última vez, que meu coração havia fragmentado e ficado espalhado na fila para comprar a passagem, que todo o sentimento esvaia como combustível derramado na estrada.... E o que seria todo aquele amor inflamável que eu sentia senão combustível para uma vida?

Era o fim, o adeus, o acalento final, que subam os créditos, que se fechem as cortinas... O espetáculo acabou em lágrimas para mim... Era só mais uma passagem em uma vida, apenas mais uma cena filmada em preto e branco. Agora seriam as doze horas de viagem, a estrada e a saudade comprimida no peito..