Histórias Cotidianas - Pedro e a Praga

Eu achei graça e até soltei um "Deus me livre" quando ele passou pela minha rua numa quinta-feira de tardinha. Com paletó preto, gravata vermelha e um ramalhete de flores amarelas. O sorriso só faltava rasgar o rosto em dois. Cátia soltou um "olha o folgado" do outro lado da rua e seu José um "lá vai, todo pomposo". Ia Pedro cheio de orgulho pedir a mão de sua nova namorada. Filha de fazendeiro, morena dos olhos esverdeados. Quem vê os dois nem imagina do vexame que o maldito causou na minha vida. Eu nunca fui menina fácil. Desde pequena eu já dava "trabalho". Eu gostava mesmo era de viver solta. Pra minha família eu era uma perdida e os vizinhos não queriam nem conta. Até que Pedro apareceu. Primeiro nos esbarramos na rua, depois no mercado e por fim na fazendinha da minha família. Meu pai que não é bobo nem nada tratou de acertar as contas com o miserável. Não deu outra. Meu pai bravo, Pedro frouxo. Meu pai praguejou logo "tomara que se rale todo". Os dias foram passando e nosso namoro foi ficando cada vez mais distante. Pedro não deixando de vir me ver quando conseguia burlar meu pai. Não deram nem seis meses e a surpresa bateu na porta. Com a notícia da gravidez fiz as malas pra tocar minha vida. Finalmente a gente ia casar e formar família, assim como meus pais fizeram. Por falta de dinheiro fui trabalhar na fazenda do seu Joaquim. Que maldito dia. A praga do meu pai fez valer quando Pedro, a minha procura, deu com as rodas da bicicleta numa rocha e se ralou inteiro. Lena foi socorrer, a bendita morena dos olhos esverdeados. Pedro se apaixonou por Lena e Lena se apaixonou por Pedro. Maldito dia. Com o pouco de dinheiro do trabalho, comprei uma máquina de costura e passei a fazer meus trabalhos em casa. Era o sustento meu e da criança à caminho. Já avisei a vizinhança que eu não preciso de marido nenhum. Que vão pra casa do diabo eles, Pedro, Lena e até meu pai. Eu era mulher de mim mesma e mais ninguém.