O parque do viver incapaz.
Caminhando pelas ruas desta cidade, só me recordo de suas palavras e de sua presença. De fato, não posso esquecê-lo, e por mais que me distancie nessa rota ao nada, de nada também encontrarei. O Vazio que preenche o já esvaziado coração so me faz perceber o quanto ainda a paixão queima e gela todos os sentimentos que a acompanham, inclusive a própria paixão. Sua complexidade é tamanha que ainda não consigo esquecê-lo, e a cada ato de mera poesia em prosa, faz o amor se iniciar como pelas primeiras vezes, naqueles momentos, que o deparei, o mirei e o amei. Tão incorreto quanto qualquer ênclise em próclise, e tão mal posicionado que mais parece outra mesóclise. Pergunto-me sobre ele, o porquê dele, e pergunto ‘ele’.
Bem, se fossemos como este parque pelo qual passo agora, poderíamos ser qualquer ramo de qualquer árvore que se encaixa nessa pequena pétala de rosa, mas de que adiantaria se não estivéssemos ligados aos espinhos, que tanto nos machucam, mas que tanto nos protegem? Não quero dizer que a dor é desnecessária, mas tão necessária quanto a beleza. Não, de fato prefiro ser uma pétala sem espinhos, é desnecessário a dor. Ou sim? Bem, não, afinal, cada um escolhe seu próprio caminho e suas próprias dores ao tocar em suas rosas e orquídeas, criando e apagando ao seu querer toda espícula, ou espinho. Toda confusão se reside também na beleza que se encontra, uma vez que, sem confusão não há a própria contastação da criação de que se é ser uma rosa. Bem, se há rosa, há outras flores, e quais são? Há ele, ele é uma flor, a melhor flor das flores, mas é aquela cujos espinhos são pétalas, cujos espinhos são espinhos, cujo caule é espinho, e onde só há o sangue proveniente da paixão ardente.
Há passaros que carregam espinhos, eu os vi, há e hão de ser muitos aqui, escondidos das árvores em suas próprias folhagens, por que o fazem? Há o medo de as rosas os verem? E se os verem, correrão para sempre em sua busca? Não, os pássaros se escondem, pois reconhecem suas feridas e seu sangue, e vão às árvores para, não as compreender, mas ignorá-las para uma nova sangria. Seria eu, então, um pássaro? Não, neste parque há os fungos, bem, eu não os sou, pois sou eu quem sou, todavia, quem são os fungos? Senão aqueles que se depositam nas bases das belezas, que as utilizam como meramente instrumento de ajuda mútua, mas que tipo de ajuda é esta, camuflada até para os biólogos e para todos? Esta ajuda que se atribui ao seu corpo, sem nem perguntar acerca de suas vontades e desvontades, apenas esperando a sua digestão extracorpórea e suas estúpidas hifas crescerem e se tornarem nada mais nada menos que puro conformismo? Não, eu não sou isto, nem ele é! Ele não é um fungo, fungo são estes os quais cercam toda paixão e todo seu fogo, transformando-o num combustivel para sua própria morte e veneno, um suicídio que não os mata, mas sim mata aqueles os quais vivem à sua vida neles. De uma forma ou de outra, são máquinas as quais matam e as quais suicidam, capazes de realizarem a intoxicação pelo próprio ato de não se intoxicar.
Ao seu lado, há este nojo que muitos dizem, que muitos matam e que muitos detestam, há o sapo. Este ser que caça a descrença que voa sobre eles e se alimenta de tal, aquele capaz de transformar o lixo e a doença em um alimento de si, buscando na umidade, no calor, uma forma de sobreviver ao fogo da paixão, não apenas um ser, mas um ser das calmarias do universo. Todavia, que isso tem a ver com espinhos? Nada, e com paixão? Nada, por que os descrevo? Porque eles hão de ter a ver a partir do momento que percebamos que há! E seria, justamente, neste momento. A Metáfora da Vida de nada é do que uma própria manifestação da realidade em sua própria realidade fictícia na sua vida, que não deixa de ser uma ficção realista. Isto é a desgosto da vida em vê-la onde não há, e não a ver onde deve se haver. Como a paixão, assume diversos papeis dentro de seu próprio ecossistema, e de nada é, senão, uma metáfora também de todas nossas dores e de todo aquilo que pássaros, sapos, fungos, árvores, rosas, enfrentam por si mesmos.
Infelizmente, este ár úmido, esta flor bela, esta capacidade em verificar a beleza da vida em sua ação metaforica, de nada é decente se não compreendemos que nosso caminho é como este que faço: Sobre um caminho de cimento que rompe as cores e que estupra o meio em que vivemos. Aquele que soterra todo que está abaixo, sem nem perguntar seus nomes, suas vidas. Afinal, ele agora é a vida! A Vida que guiará o caminho pelas paixões pré-definidas, e é isso que é, apenas uma pré-definição de um sistema que nos força a nos soterrar a cada dia sobre suas falsas imaginações acerca de nossas falsas vidas. Se fossemos um habitat, apenas estaríamos queimando, não pelo fogo da paixão que se faz viver, mas pelo fogo do ódio que se faz definir toda paixão. A Paixão é definida? Apenas por aqueles que a querem imaginar como um instrumento de encaminhamento, e não de iluminação! Coitado, são daqueles que creem em seu calor, aquecido por essa falsidade e essa traição que se faz o sol sobre teu piso, mas que de nada é eficaz de se sair desta situação, afinal, fora também tão manipulado. Quanto ódio. já penso, todavia, é isso, a paixão, ele, ele! Definido por uma ordem social, e que faz cada espinho sangrar, cada pássaro machucar, cada árvore crescer em fungos, e cada fungo morrer com pássaros em suas copas. A Desonestidade de um caminho criado pelo colorido de se viver se torna, nada mais, nada menos, que a própria incapacidade de viver.