Quarta feira de cinzas
Manhã sonolenta, Dia de jejum.
Neblina cai e mantém deserta a sempre cega, surda e muda ladeira das benzedeiras.
Na íngreme escadaria, ainda suja de confetes da folia da noite anterior, Epaminondas o carismático pároco da comunidade, segura firme seu exemplar sagrado e, com passos cadenciados, caminha ao lado de um nauseabundo esgoto a céu aberto.
- Seria ele o primeiro chegar? Acha que Não! Alguém se antecipou. Mas por que está deitado no degrau da paróquia, feito o Cristo, mas essa de pele negra?
Sobre o rosto da pobre alma, pedras desfigurando seu semblante. Inerte, todo rasgado, no pé uma havaianas, a outra lançada ao longe. Epaminondas, não reconhece os restos mortais.
Era notório, outros já teriam passado por ali e porquê não o acudiram? Mas no morro é assim, ninguém fala, ninguém viu! E erro de carnaval, morre na quarta de cinzas, portanto ali estava diante de um fato consumado.
Horas depois, no velório entre choro e soluços, indaga a pobre mãe beata:
- "Epaminondas, rezávamos tanto por ele! Por que morreu assim, de forma tão bárbara e logo no degrau da capela? "
As cinzas lágrimas da fervorosa mãe condoíam o jovem padre que dias depois me confessou que para aquele doloroso pranto não encontrou teologia, sendo o silêncio e o abraço sacerdotal único lenitivo encontrado para aliviar a inquebrantável dor.
Jazi.