A INVEJA NO LIVRO "INVEJA E GRATIDÃO". PSICANÁLISE E SEIOS.

Melanie Klein foi uma psicanalista austríaca que legou a obra "Inveja e Gratidão", na qual, na primeira metade do século XX, teceu considerações sobre o sentimento de inveja. As considerações que Melanie Klein faz sobre a relação entre bebês e o seio materno mostram o quanto o psiquismo só conhece dois estados: o de paranoia (estômago vazio seguido de ira) e de depressão (estômago cheio seguido de sono).

Para tentar compreender o conceito "kleiniano" de "esquizo-paranoia", precisamos percorrer alguns conceitos da Psicanálise para tentar entender a "visão kleiniana", que procura desvendar o motivo pelo qual a inveja nasce da relação objetal com o seio materno.

Vejamos que para Freud a inveja era do pênis, por parte da mulher. O pênis seria limpo, fácil de usar e sua ejaculação bem mais simples (orgasmo) que o feminino (sendo o clitóris um "pênis atrofiado" na fase gestacional do ser humano - o que levou Freud a nos ver com seres bissexuais).

Para Klein a inveja é do bebê, que nem é menino ou menina no ego ainda (são macho e fêmea na projeção familiar, por meio de roupas, nomes, brinquedos etc.).

Os bebês dependem do "seio bom" para que sejam plenos de harmonia energética mental. Pensam que o seio faz parte deles de maneira altamente egocêntrica, já que não sabem que existe o mundo fora deles. A consciência do bebê, devido a ausência de formação de gorduras nas células neuronais, em formação, faz que o mundo seja visto "magicamente". Há várias etapas do nervo ótico e da percepção de si, neste processo de formação da personalidade.

Ou seja: há uma possibilidade de alguém ter genital masculino e usar a posição sexual passivo/"feminina" (segundo o mundo da cultura que se manifesta no superego).

Bebês não sabem que o mundo independe deles em vontade. Possuem uma visão mágica da realidade que os cerca, não havendo neles o chamado princípio de realidade (ou seja: o mundo externo e as pessoas não estão ao serviço da nossa libido "mimada").

O ego, que guarda o nosso EU (o que pensamos que somos; uma forma parcial de consciência de si mesmo e cheio de mecanismos de preservação ou mesmo de autodestruição quando não satisfeito o autoerotismo), que se forma mais ou menos aos 2 anos ou mais, dependendo de psiquismo para psiquismo, gira em torno de necessidades. Como foi dito: de autoerotismo, oriundo do narcisismo primário.

Uma das soluções que o psique, ao longo da história, arrumou para esse dilema é: "somos imagens e semelhanças de Deus" (no modelo judaico-cristão ocidental de mentalidade).

O narcisismo é um impulso que guia a libido para si mesma, onde uma pessoa descarrega nele (meu ego) a carga erótica.

Nem mesmo os santos escapariam disso, pois ao fazerem o bem, buscam agradar o PAI.

Narcisismo é uma necessidade de amor por si que nunca cessa, muito bem representado pelo mito grego de Narciso, que mergulha no lago no qual é refletido a sua face, num cego amor por si mesmo.

Nunca cessa, porque é o que se chama vulgarmente "felicidade" - a qual pode estar em total falta de sintonia com o princípio de realidade e a tendência a angústia persecutória. Um exemplo é algo que contrarie um narcisista patológico. Ele, por instinto, busca a destruição do objeto da sua fixação erótico-catártica (Ex.: um "macho-alfa" que pratica "feminicídio" ao ser contrariado pelo seu objeto de fixação de "vampirismo" narcisista).

Todo psiquismo está em consonância com esta "lei narcísica", por mais altruísta que seja uma pessoa, que, com toda certeza, é assim por esperar uma recompensa (o caso dos religiosos que fazem caridade em busca do amor de Deus, e por aí em diante).

Não há um psiquismo que não tenha no narcisismo sua base de equilíbrio, cujo espelho e as relações sociais são seus principais termômetros internos.

Fatores étnicos, de nacionalidade, de classe social e outros podem influenciar num maior ou menor narcisismo.

O narcisismo produz energia psíquica utilizando a transposição bioquímica para sua descarga no psiquismo.

Nossa psique é uma lagoa que recebe água, por assim dizer, do que comemos e bebemos. Sem essa energia real não temos energia mental. Daí doenças mentais (neuroses) gerarem, em alguns casos, obesidade ou emagrecimento.

Porém, um dia erroneamente achamos que nós mesmos, como bebês, éramos autótrofos (produtores de nossa própria comida).

Ao perdermos o seio materno, por começarmos a nos alimentarmos de objetos sódicos, perdemos uma fonte de carícias - segundo a psicanalista infantil em apreço: Klein. Esses objetos sólidos podem provocar cólicas no bebê.

Por isso as fezes e a prisão de ventre possuem causas psíquicas que estão ligadas com perversidades, sadismos e masoquismos no processo de envelhecimento, segundo Freud, Klein e vários outros psicanalistas.

O corpo da mãe fornecia tudo que precisávamos, como calor e afago, pois o alimento era apenas um dos estímulos que recebíamos do seio.

Melanie Klein afirma que não sabíamos que o seio era algo externo a nós, mas pensávamos que o seio é éramos nós, como uma fantasia do nosso ego ainda primitivo.

A falta do seio gerava, neste momento, um surto (psicótico) na forma de choro, que é a falta do ato de sugar o seio, que aos poucos vai se transformando num objeto externo que não nos atende de pronto.

Daí nasce, segundo Melanie Klein, o sentimento de chantagem emocional. A base de grande parte dos comportamentos neuróticos compulsivos e autoflageladores nascem na fase de amamentação, que é a troca de amor entre bebê e mãe (mães que podem sofrer de depressão pós-parto e estados puerperais de rejeição do bebê).

A inveja e a ira em relação ao que não temos e que não é nosso: o seio materno; aqui nasce a INVEJA.

Seio que passa a ser cobiçado como objeto que nos fornece o amor por nós mesmos, que alimenta o narcisismo e não só o estômago com o leite.

Logo, a inveja que Freud afirma que as mulheres possuem do pênis, por ser limpo, ejacular, entrar em ereção (sem depender de umidade do canal uterino) é antecedida por uma ira em relação contra "seio mau": "seio bom" que mamamos e "seio mau" que nos é negado, segundo Melanie Klein na obra "Inveja e Gratidão"- quando o "mordemos como vingança, ainda bebês, o seio que queremos até golfar, pois o bebê não tem limite de leite". Bebê que ainda só é menino e menina na projeção cultural, pois todos, pela Psicanálise, possuem tendências eróticas por seres humanos do mesmo gênero. Em alguns passa latente ou é sublimado em instituições sociais ou outros objetos de catarse libidinal.

CONCLUSÃO

Dessa maneira, todas as relações afetivas de um ser humano com outro é permeada por algum objeto de cobiça externo que está entre esses dois seres, INVOLUNTARIAMENTE.

Por essa concepção, a inveja sempre ronda qualquer relação humana (ATÉ COM OS PAIS E IRMÃOS), numa reminiscência ancestral da cobiça sobre o seio (que na relação sexual é usado como zona erógena, o que só dá a Melanie Klein razão).

Assim como na relação sexual, o pênis é sugado, o seio também é.

Assim como a ereção é o narcisismo masculino, o seio é o feminino.

Prova são as cirurgias plásticas que mulheres fazem e os travestis fazem.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 16/02/2018
Reeditado em 22/11/2022
Código do texto: T6255985
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