HÁ LINGUAGENS E LINGUAGENS
Vamos falar um pouquinho sobre a linguagem que traz paz e vida.
A linguagem, a capacidade de transmitir conhecimento, opiniões e emoções por via das palavras é um dos principais traços distintivos entre o humano e os outros animais. O mundo do Direito é o mundo da linguagem, falada e escrita. Vive-se das palavras: elas são as armas para persuadir, conquistar, vencer, convencer... Falar ou escrever nunca é um ato banal. É a marca da identidade, é o modo de ser e de estar da pessoa no mundo.
A linguagem clara, objetiva, educada, simples é necessária para que o interlocutor entenda com lcareza. É imperativo dominar os conceitos e os sentidos das palavras.. Sujeito, verbo e predicado, de preferência nessa ordem.
A linguagem deve ser instrumento da socialização do conhecimento, e não um instrumento de poder, pelo qual se afasta do debate aqueles que não têm a chave para decodificá-la.
Um bom conselho foi dado por Manuel Bandeira: “Aproveito a ocasião para jurar que jamais fiz um poema ou verso ininteligível para me fingir de profundo... Só não fui claro quando não pude”.
A linguagem deve ser civilizada. A agressão, a grosseria, a violência verbal não contribuem para a causa da humanidade, nem tampouco para a causa que está em disputa. É possível ser firme e elegante, destemido e gentil. Ao observar a linguagem do caboclo, ou linguagem regional, percebe-se uma carência gramatical, mas ao mesmo tempo, há uma autenticidade dialogal. A sutileza devolve a resposta com produto de melhor qualidade.
Um dia, no mosteiro onde vivia vários monges e Tomás de Aquino, homem bom e crédulo, que não levava as conversas para a malícia ou zombarias. Certo dia, reunido com um grupo de monges, um deles gritou da janela lá das alturas: “Estou vendo uma vaca voando!”. Aquino correu até lá. Não havia nenhuma vaca voando. O monge disse; “Tomás, vaca não voa!” E todos caçoaram dele. Suavemente respondeu: “Facilius est quam volare vacca monachus mentiri. (é mais fácil uma vaca voar do que um monge mentir).
Muitas vezes a linguagem literal pode trair o sentido verdadeiro das coisas. Como na épica passagem de Tristão e Isolda. Eles eram apaixonados entre si; mas por injunções diversas da vida, Isolda casou-se com o rei, e não com Tristão. Mas algum tempo depois, a paixão deles se reacendeu e eles se encontravam furtivamente. Isolda foi denunciada e levada a um tribunal eclesiástico, onde seria interrogada. A mentira a levaria à morte. Isolda pediu a Tristão que, no dia da audiência, esperasse por ele à porta do tribunal, vestido como um mendigo. Lá chegando de carruagem, dirigiu-se a ele e gritou: “Você aí, leve-me no colo até o local do julgamento. Não quero sujar minhas roupas na poeira desse caminho”. Vestido como um maltrapilho, Tristão obedeceu. Iniciada a audiência, Isolda é interrogada se traía o rei. E respondeu: “Juro solenemente que jamais estive nos braços de outro homem que não os do meu marido e os desse mendigo que me trouxe até aqui”.
A linguagem, muitas vezes, pode também ser ambígua. É preciso estar atento para as pré-compreensões do interlocutor. Não perceber o outro pode levar a diálogos como o que se estabeleceu entre um cavalheiro tradicional e romântico e uma jovem moderna e descolada: “Gostaria que você fosse a mãe dos meus filhos. Você aceita?” E a dama responde: “Depende. Quantos filhos você tem?” Ter bom humor e ser espirituoso, não levar tudo a sério ajuda a viver mais e melhor numa linguagem verdadeira e serena.
É isso aí!
Acácio Nunes