O Monza ano 80
Todo mundo tem um carro que gosta pra caramba.
No meu caso foi um Monza ano 80. Eita bichinho bom!
Eu sentia-me um rei dentro dele,com a rainha ao meu lado, lógico.
E os herdeiros das prestações no banco detrás.
***
...Comecei no ramo automotivo com um Passat modelo antigo.
Não sei se tem modelo atual.
Era muito bom, na sinaleira tinha um arranque de fazer inveja até aos carros nos dias de hoje.
Comprador amador, levado pela emoção fui comprá-lo num dia de chuva.Um ex-cunhado indicou a ótima oferta e o endereço pra mim.
Pega a rua principal, a primeira à esquerda, segue reto, primeira casa com uma palmeira grande pega à direita, logo em seguida tem o bar do chifrudo, passa ligeiro ali por que geralmente tem cornudo bebendo manguaça. Sobe a segunda a direita, última casa da rua.
Assim fizemos,o cara do carro estava numa miséria que dava dó, nós vamos comprar o carro baratinho mesmo.
Chegamos na casa do vendedor sob muita chuva. O cara já veio nos encontrar na calçada, abriu algo que parecia um portão e mostrou o carro. Paixão a primeira vista! (gostei da cor - verde) e do ronco do motor então,Ahe!
Conversa vai, conversa vem, debaixo do telhado apreciávamos o carro.
A minha emoção era tanta quanto os pingos de chuva batendo na lataria.
Como eu era um cara organizado, já tinha tudo preparado.
Dinheiro "ajuntado" no valor conforme o ex-cunhado tinha comentado.
E ali mesmo, no ecoar dos mil e um trovões fechamos o negócio.
Sai dali já com o carro na rua enlameada.
Mas e daí?
Nós dentro do carro nada de molhadura, era sorriso pra todo lado.
Nós não tínhamos garagem ainda e o bonitão ficou no lado de fora da casa com todo o aguaceiro encima. De vez em quando acordava de madrugada, olhos arregalados sem dormir direito só pra ver se ele estava lá, ladrões já existiam naquela época também. Não tantos e tão graduados como o nosso presidente atual e os seus ministros, enfim.
Os papéis ficamos de passar noutro dia, ainda de chuva e assim nós fizemos.
E chegou o sol.
Uma semana depois, num belo despertar com os raios agora do sol
batendo sobre a lataria, veio "aquela" observação mais acurada.
Riscos na lataria pra todo lado. Só embaixo do capo não tinha riscos.
Haja coração! Que visão.Tudo continuava verde aos meus olhos, mas que tinha incontáveis partituras, isso tinha.
A rainha logo foi avisando...devolve essa m....pro cara e pega o dinheiro e nós compramos outro carro. E lá fui eu, meu ex-cunhado, seu filho, mais dois primos e um tio metido em lutas de UFC.
Quando nós passamos pelo bar do chifrudo tinha muito movimento lá.
Havia dois caras já empacotados estirados no chão e a polícia com um balde catando as cápsulas de balas, diga-se por todo lado. O bar funcionando normalmente com umas "gatinhas" fazendo miau pra nós.
Acelerei o Passat, era bom de motor, poxa.
E chegamos na casa do vendedor. O portão ou a porteira jazia no chão.
Janelas fechadas, portas com duas trancas em cima e embaixo mais uma no meio.
O vizinho foi logo avisando...Já partiu o cara no mesmo dia da papelada.
Era um bom vizinho mas a cachaça e a mulherada acabou com a vida dele. Voltou pro litoral com o que sobrou da família me parece. Deixou só o cachorro boa peca amarrado lá no fundo do quintal. Pegamos pra nós cuidar, fazer o que né? Deu pena do bichinho.
E assim ficamos com Passat por 3 anos. Fora a lataria que era toda arranhada, era um bom carro, potente. Ah! Não querendo ser repetitivo...E tinha na sinaleira um arranque de fazer inveja até nos dias de hoje.
***
Com o Monza foi diferente. Já mais "experiente" comprei numa revendedora ali da avenida Getúlio Vargas. Um pessoal muito competente por sinal. Nem entrei na Revendedora é já tinha um cafezinho pra tomar. Depois de uns cinco cafezinhos oferecidos pela secretária (estranhei o decote dela, parecia que os mamilos iam saltar "pra fora" a qualquer hora). Eu olhava mais para o decote do que para o vendedor.
Mas deu tudo certo, ofereci o Passat (descontando os arranhões). Para considerar o desconto dos arranhões na lataria os danados colocaram um funcionário pra contar quantos havia. Ele estava metade da contagem mas o raio do sol atrapalhava e ofuscava, ficou pelos trezentos.
Concordei e no preço do Monza 80 foi tudo considerado.
Eu tinha colocado o Passat no estacionamento e as chaves do mesmo
sobre a mesa do comprador. Depois de fechada a papelada, num vai pra cá, vai prá lá por dentro da loja o comprador falou:
- O senhor traz o carro para o fundo da loja, por favor.
Eu fui direto ao Passat (sem a chave) e para surpresa minha o carro não estava mais lá. O primeiro e único pensamento...Roubaram o carro, Putz, logo hoje. Tudo acertado, to ferrado mesmo.
Sentei na calçada desolado.
Mas, ufa!
Outro funcionário da loja já tinha levado o Passat para uma filial da revenda. Nossa, como a gente fica ansiosa nessas horas!
Valha-me Deus!
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Quanto ao Monza 80 era uma baita carrão!
Recomendo até hoje pela marca, potência e mecânica.
Pelo extremo conforto fiquei em dúvida.
Quase dormia dirigindo ele.
Um dia quem acordou-me foi o motorista de uma carreta.
Abuzinava e gesticulava feito um doido só porque eu estava na contra-mão.
Acordei a tempo e prometi nunca mais viajar depois do almoço.
Se o Monza fizesse a carreta virar sucata a culpa seria minha.
Ainda devo os pedidos de desculpa para o motorista.
Culpa do meu pé no acelerador que não obedeceu a minha razão que dai em diante só olhava pelo retrovisor.
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Na família comíamos eu, minha adorável esposa, grávida de um menino o Jr, e minhas duas filhas, a Pri e a So.
E o tal do Monza começou a comer junto.
Tinha mês que eu olhava uma cadeira na mesa da cozinha e jurava que o Monza estava sentado ali e comendo!, eu escutava ele até arrotar nos meus pesadelos.
Ele aguentou na minha mão o tempo das prestações, 48.
O que aliviou-me no meio do carnê foi frequentar uma igreja nas imediações da minha casa.O pastor pregava muito bem, quando ele falava que havia bençãos para dívidas atrasadas eu já corria para a frente do altar.
Um dia quase tropecei num cara, achei parecido com o cara do Passat.
Era impressão automotiva minha, com certeza.
Mas vai que o cara tinha deixado a barba crescer...lembrei também do alvoroço do bar do chifrudo, melhor ficar calado.
Vida de pobre é assim, vive de sonhos...rs.
Quando liquidei a última prestação já vendi o Monza na primeira oportunidade e comecei a pegar o busão.
Fique com ele "na mão" duas vezes devido a caixa de câmbio.
No mais só alegria, graças a Deus.
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O meu irmão conta uma história diferente, outro dia eu falo.
Ele comprou também um Monza mas mais novo do que o meu.
Meu irmão ficou com um costume estranho.
Quando ele vê hoje um Monza daquele ano ele atravessa a rua,
faz o sinal da cruz e não olha para trás.
Vá entender essa esquesitice!
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Outro dia, eu conto também a história do meu Opalão comprado em Curitiba. Extremamente rebaixado, aros de magnésio(?), pneus "quadradão". Quando passávamos num lombada, era de lado.
E ficava aquele suspense, aquela torcida adversária né?
Vai bater o fundo, vai bater o fundo!
Eu passava sem arranhão e fazia aquele sinal de positivo com o outro dedo...haha.
Ele tinha um volante "esportivo" e em algumas manobras os meus braços ficavam entrelaçados, causava algum desconforto quando dormia a noite.
Abraços.