SEXTA-FEIRA TREZE
Fevereiro de 1987. Voávamos de Belo Horizonte para Manaus. A certa altura do voo, o comandante informou que passávamos sobre uma tempestade.
Olhei pela janelinha e vi uma lua redonda, enorme, que se derramava, tingindo de prata o imenso edredom de nuvens que se estendia, compacto e regular, a dois?... três?... cinco? mil metros abaixo de nós.
Voltei-me para o interior do avião e falei pela primeira vez, e a queima-roupa, à jovem que viajava a meu lado:
- Lá embaixo, temporal. Aqui, uma bela lua cheia, em plena noite de sexta-feira treze!
E ela:
- Jesus! Se minha mãe tivesse se dado conta disso, não me teria deixado viajar hoje.
Assim, quebramos o gelo. Aí ela lembrou uma crônica de Rubem Braga, que fala de tempestade em terra e de paz entre as nuvens e o céu. E enfiamos um relato de Cecília Meireles, sobre uma viagem turbulenta entre o céu e o mar. E veio Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e etc., até que chegamos a Brasília, onde ela faria escala e eu uma conexão com outro voo para Manaus.
Não tive mais notícias da bela coordenadora pedagógica da escola que atendia aos filhos dos funcionários das empresas que instalavam o complexo mineralógico de Carajás, no Pará. Mas ficou uma saudade. E a lembrança boa de um desses momentos gostosos, que, somados, afirmam uma vida.