MUNDO MARAVILHOSO

Mundo Maravilhoso

Trabalhei muitos anos em uma mesma empresa e como consequência disso conheci muitas funcionárias de outras empresas dali do prédio, com o tempo ficamos amigas e passamos a almoçar juntas todos os dias.

Como podem imaginar nesses almoços saíam todos os tipos de assuntos e os conteúdos triviais que abriam caminhos para outros mais complexos e muitas vezes íntimos.

Somos contratados para trabalhar em media 8 horas diárias...mas o tempo que você passa fora é muito maior, se contar a saída, chegada, e o intervalo. Durante a semana você vive para o trabalho. Isso para quem é resguardado pela CLT, não estou entrando em méritos trabalhistas, quero apenas esclarecer que em alguns casos é no trabalho que nascem grandes amizades, inimigos também claro, e até amores, quantas pessoas não se conheceram no trabalho ou conheceram o amigo do amigo do colega em alguma festividade pós emprego.

Bom, nessas sessões de almoço em grupo saía cada coisa, experiências de vida então nem se fala, mas o que me divertia eram os debates.

Me recordo um dia em especial que conversámos sobre baladas, e disso saiu temas como drogas e sexo, ali a maioria estava acima dos 30 e apenas uma tinha 18 anos. Pois bem, do nada perguntei:

-O que vocês tiveram vergonha de confidenciar para a mãe de vocês, que fizeram sexo ou que usaram drogas?

Tamanha foi a surpresa das colegas que me olharam e disseram.

-Que fiz sexo.

Assim responderam TODAS.

Eu ri, e formulei outro questionamento:

-Porquê? sexo todo mundo faz, ou fará um dia, acho normal você questionar ou falar sobre isso com a sua mãe.

-Um tabu? Não sei, com o nível de gravidez na adolescência, ter vergonha ou medo de algo tão normal.

Talvez falar que usou drogas ou que cometeu alguma transgressão legal seja menos vergonhoso?

Vai de cada mãe também né. Tenho percebido que o povo se preocupa do que os vizinhos vão dizer do que ter trabalho em educar os filhos.

Mas olha que interessante, conversa vai..conversa vem, a de 18 anos disse que era virgem, e as demais até então acima dos 30 anos como eu havia falado, se mostraram surpresas e debochadas para com moça.

Ela no meio de desconhecidas não se mostrou envergonhada para abrir sua intimidade, mas com a mãe disse que teria tal emoção.

O que me fez no momento entender que a conversa aberta e a falsa segurança, já que todas estavam falando ali da suas experiências abriu espaço para essa coragem.

Hoje eu penso que os filhos deveriam ser como o bobo da corte, que era o único que falava as coisas na cara do Rei, mesmo sujeito a ter a cabeça decepada.

Lembrá-lo-íeis que confiança se conquista, tal ensinamento deveria vir de casa, evitaria a tal "adolescência perdida".

Bom, com as colegas entaladas com a comida no qual olhavam para a confidente surpresas e com desconfiança, falei;

-Fulana, não sinta vergonha, vou lhe contar uma história que li em algum lugar e nunca esqueci;

"Um dia um jovem chegou perto de um intelectual velho e disse assim meio envergonhado;

-Eu nunca li Balzac.

O velho respondeu;

-Que bom! Eu te invejo.

-Por quê?

E o velho respondeu;

_Porquê você vai ter a grande oportunidade de mergulhar num mundo maravilhoso! Eu não. Eu já conheço tudo."

Para você que é virgem ou primeira vez como mãe, você que vai para o primeiro cargo seja de emprego ou coisa assim. Não sinta vergonha de dizer que não fez, que não sabe, ficar com receio do que vão pensar de você te freia para aprender a viver, é errando que se chega na totalidade do ser.

Pronto, os olhares julgadores se dissiparam e mais uma vez mudamos o diálogo para algo menos privado.

E vida que segue...

Priscila Ferrer
Enviado por Priscila Ferrer em 15/02/2018
Reeditado em 15/02/2018
Código do texto: T6254841
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