O QUE É A MORTE?

O que é a morte?

Morrer até a metade do século XX era tétrico, macabro, as pessoas morriam velhas em tenra idade.

Os velórios se davam nas próprias residências velavam-se nas salas de jantar, com o caixão sobre a mesa da refeição dominical.

Transformavam-se em banquetes, às altas horas da madrugada, as sopas quentes, os quitutes, os falatórios sobre o defunto. As viúvas eram verdadeiras carpideiras ou viúvos em ébrios contumazes. Os cortejos ao cemitério eram longas comitivas espalhafatosas até a chegada à sepultura. Os jazigos, verdadeiros monumentos, traziam lembranças dos falecidos até a terceira geração passada. Muitos túmulos abandonados pela extinção das famílias ou pela quebra das empresas patrocinadoras dos seus familiares. A morte era lembrada nos primeiros sete dias, e prolongava-se ao mês e perdurava no ano inteiro, com visitas entre os herdeiros. A morte era material, e temporal. Caia-se no esquecimento na medida em que se concluía o inventario.

Nos tempos atuais é tudo muito diferente. A começar com a morte no fim da sua longevidade, depois de longo tratamento quimioterápico. Os velórios se dão em lugares apropriados, inclusive em cemitérios modernos, em campos gramados, floridos, arborizados, impressionando ideia de um até breve. Já não existem ostentações em mamore ou bronze, estatuas ou imagens de santos. Tudo é padronizado, igual a todos os mortais. Os esquecidos ficam tão iguais como com os lembrados. Não há mais o ranger de dentes, apenas o som de musica clássica ou sacra. A classe média já não dispõe de bens a partilhar, e, os abastados já doaram em vida os seus pertences aos seus herdeiros e testamentados. A vida é longa, mesmo depois da morte, porque a fé não se baseia nos bens matérias do de cujus, mas na sua história de vida, na sua obra póstuma, no testemunho dos herdeiros. Morrer na contemporaneidade é muito diferente. Poucos familiares enterram seus mortos. A maioria os leva ao crematório e por lá deixam suas cinzas. Acaba ali mesmo o fim da autoria de uma geração. Seus pertences vãos para os asilos, casas de caridade ou instituições beneficentes. Não ha resquícios pra contar a história do falecido ou para marcar sua vida. Nem sua genealogia vai interessar a sucessão. Morreu já era. O presente não se importa com o passado nem com o futuro. Vive-se hoje como quem não vê o tempo passar.

Chico Luz

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CHICO LUZ
Enviado por CHICO LUZ em 15/02/2018
Reeditado em 21/02/2018
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