UM MERO PORTA-RETRATOS
Crônica de:
Flávio Cavalcante
 

 
     É o que vamos representar em tempos futuros. Apenas um mero retrato na parede. Seremos uma mera e saudosa lembrança postada num porta-retratos na sala de estar da nossa residência ou escondido dentro de uma gaveta, raramente lembrado por aqueles que um dia fizeram parte da nossa história de vida. Fatalmente em tempos próximos não estaremos mais por aqui.
 
     O que mais impressiona é como damos valor a tantas coisas fúteis, na vida; perdemos muito tempo dando importância a coisas sem valor algum. Não paramos para imaginar que a roda do tempo não para de girar e a nossa missão aqui nesse mundo terreno a cada dia perdido é menos um dia que deveríamos ter aproveitado para fazer algo produtivo, ou deixar um legado que no futuro venha servir de boas e saudosas lembranças.
 

     O certo é partiremos um dia e não levamos nada para o outro plano.   Todos nós passaremos por este momento um dia.
 
     O mais estranho foi parar alguns minutos do meu tempo bastante apertado para fazer uma viagem momentânea nas profundezas das minhas lembranças. Ao me deparar com algumas fotografias antigas, distribuídas em um porta-retratos do casamento dos meus país, percebi que a maioria dos modelos da foto já não estavam mais entre nós, inclusive, os próprios protagonistas da foto. Um filme passa diante dos nossos olhos num momento como este. Já ouvi muito de pessoas que perderam conhecidos, proclamando em bom tom " Já foi tarde", "O inferno hoje tá em festa", "Esse aí o diabo vai mandar de volta" coisas desse tipo a pior. Por outro lado, ouvi também muitos gritarem aos quatro cantos desse mundo, "Foi embora uma boa pessoa", "Deus a (o) conserve num bom lugar", O céu ganhou mais um anjo com a chegada do fulano ou sicrano.
 
     Numa hora como esta, sempre aparece os defensores da lei natural quando é com uma pessoa muito ruim.
 
     "O cara já morreu, deixem ele em paz".
 
     É muita hipocrisia dizer que o homem representado na simples foto da parede é intocável porque ele já está morto e enterrado. Acredito piamente na lei natural do retorno. Acredito com veemência nas frases postas em livros. "Fazei o bem sem olhar a quem!”. Toda ação sempre promove uma reação. Não é porque o cidadão que era um demônio na terra depois que morreu virou um anjo do senhor. As palavras negativas profanadas pelas pessoas que foram vítimas de sua arrogância, são apenas frutos que ele mesmo plantou em vida.
 
     O retrato exposto em algum lugar da residência pode existir, como se ele tivesse mais vivo do que nunca e este vai ser imortal aos olhos dos seres viventes ainda circulantes na face da terra, mas também vai servir de lembrança e, contudo, um canal de transmissão dos frutos de ódio ou o amor que foi deixado por ele.
 
     Há estudos que comprovam que as palavras têm forças até para os que não estão mais nesse plano, e se tiver um ponto de verdade, que ele reflita onde quer que esteja sobre o mal legado que deixou em vida ou desfrute do bem transmitido em orações pelo bom fruto plantado em toda sua vida terrena.
 
 
Flávio Cavalcante
 

 
Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 14/02/2018
Código do texto: T6253493
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