Zanzando pelos salões
Zanzando pelos salões
Quanto riso, quanta alegria... Assim foram os carnavais de minha vida. A folia podia ser nas matinês infantis, quando, ingenuamente, divertia-me jogando lança-perfume ou sangue do diabo nas costas das meninas. Ou no raiar do dia carregando o corpo extenuado pelas ruas das cidades da minha existência. E não foram poucas! Fui fantasiado de marinheiro, palhaço... e também vesti uma camisa listrada e saí por aí. Como um grumete ficava zonzo. Mas não era pelo balanço do mar... Aí, então, já não era mais pelo éter das Rodouros.
Mais de mil palhaços no salão... Em círculos ou fazendo trenzinho, alegria era se divertir cantando o “Mamãe, eu quero mamar”, verdadeiro arroz de festa no repertório momesco... Não faltava nunca. No passar do tempo brinquei, pulei, cantei, dancei, envolvi e deixe-me envolver em paixões por sedutoras e volúveis colombinas como um ingênuo Pierrô. Paixões que se extinguiam na ultima marcha da noite... ficava apenas, martelando na cabeça, o refrão “E a minha colombina que é você... Só quer saber de iê iê iê”.
A solução era aguardar o próximo ano para cantar “foi no carnaval que passou... Eu sou aquele Pierrô... Que te abraçou e te beijou, meu amor”... Felizmente era uma época em que não se ouvia falar de assédio sexual. Cabia, então, cortejar e cantar “vou beijar-te agora... Não me leve a mal... Hoje é carnaval”.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" já registrava Camões em um de seus Sonetos. Hoje a velocidade da mudança parece ser a responsável maior pela destemperança, lasseando freios e banalizando os costumes. Assim, longe das batidas do Zé Pereira, substituídas por ritmos nada carnavalescos, vejo a transformação do Carnaval. Já não se vê mais Rei Momo com faces rosadas e excesso de peso... E a Colombina, carregando adesivo do “Não é Não!”, vai saindo de cena, pois Arlequim e Pierrô, seus amantes de outrora, resolveram mudar suas vontades e desfilar pelos salões de mãos entrelaçadas.
Escrevo ouvindo “Felinto, pedro salgado, guilherme, fenelon... Cadê teus blocos famosos... Bloco das flores, andaluzas, pirilampos... Dos carnavais saudosos... Na alta madrugada o coro entoava do bloco a marcha-regresso. E era o sucesso dos tempos ideais...”.