Viagem
Pressiono o botão e a luz se acende. Alguns tantos minutos que me impacientam e ouço o som familiar. É ele que se aproxima.
Inquieta, fico só imaginando: “O que será que ele trará? Quem virá com ele?”
Torço para que venha sozinho. Justamente hoje não tenho vontade de olhar para ninguém, quem dirá conversar.
Estou atrasada, com pressa, e ele, como sempre, deve estar fazendo hora com alguém em algum lugar.
Ele chega!
Abro a porta de supetão e vistorio rapidamente seu interior. Com certeza não é meu dia de sorte, pois ali já instaladas estão outras três
pessoas.
Entro meio constrangida. Os olhares que recebo tampouco são mais efusivos.
Depois de um rápido cumprimento e uma leve contração de músculos num arremedo de sorriso, creio eu, posiciono-me para a empreitada.
Porta fechada, cada qual se concentra em alguma coisa. Eu ponho-me a admirar os botões de controle como se os visse pela primeira vez. Meus companheiros de viagem, absortos, dedicam-se a atividades inadiáveis também: conferem a limpeza das unhas, observam os pés e o mais inusitado de todos finge assobiar olhando nervosamente para os lados.
Por sorte não há outras paradas pelo caminho, mas mesmo assim tem-se a impressão de que a viagem dura uma eternidade.
Finalmente chegamos.
O passageiro mais próximo da porta atira-se em direção a ela, como se lhe faltasse o ar. Todos o seguem, cada qual mais apressado que o outro. Despedidas rápidas, quase imperceptíveis, um leve entreabrir de lábios...e estão todos fora.
Com um suspiro de alívio e um sorriso irônico também me ponho a caminho, mas não sem antes dispensar um olhar de relance e um sorriso irônico ao bando de vizinhos obrigados a essa dura convivência num claustrofóbico elevador.