O INSTINTO PRIMÁRIO NO CARNAVAL
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Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2018
O último carnaval que eu brinquei na minha vida foi em 1973. Tinha 21 anos, e até gostava. Costumava criar umas fantasias malucas ou estranhas, a ponto de não permitir que ninguém me reconhecesse, daqueles que me eram próximos.
E a razão disso deu-se num episódio que assisti, envolvendo briga de patota. Onde um deles, por trás, deu uma pernada no outro, derrubando-o ao chão, fazendo-o bater a cabeça no asfalto, e até chovia nessa hora, e vi o sangue do rapaz misturar-se com a água da chuva no asfalto.
Nada que me transformasse num traumatizado. É que no ano seguinte, um amigo convidou-me para ir acampar. E isso era uma coisa até que eu achava fora de propósito. E pichava aqueles que o faziam, achando uma tremenda bobeira, tal prática. Mas mesmo assim topei o convite e fomos acampar naquele ano e carnaval (1974).
Desde então, por muitos anos, deixei de ver e participar de carnavais. Porque peguei o gosto por aquela prática, vendo aí um jeito de sair fora dessa muvuca que é o período de reinado de Momo, como se diz, então.
Mas a idade foi avançando, fazendo com que aquela vontade não mais permanecesse em meu íntimo. Mas não foi só isso que fez com que eu mudasse meus modos com relação a essa ideia. A violência também é uma das responsáveis por fazer-me desistir dessas práticas, porque já não há um lugar calmo e tranquilo para se acampar em nosso estado. Quiçá no país.
Enfim, nesses dias fico em casa, longe de quaisquer burburinhos carnavalescos, e até desanimado de sair, seja lápara onde for. Porque o tumulto está em todas as partes que se possa imaginar, daí a tranquilidade é quebrada, queiramos ou não. E até há possibilidade de se encontrar uma ocorrência trágica ou traumática, porque as pessoas nesses tempos atuais esqueceram de uma coisa: o respeito. A tudo e a todos.
Por isso é que na Quarta-feira de cinzas, quando saírem as pesquisas e os levantamentos sobre esse período, não será de se espantar em ver muita gente ferida e/ou morta. Infelizmente. A impressão que se tem é a de que a espécie humana está regredindo no aspecto da evolução, se aproximando daqueles tempos chamados de "da pedra", onde ainda não se sabia portar-se como gente, agindo apenas instintivamente. E essa está sendo a maior propriedade humana nesses nossos tempos.