O CIGARRINHO DOCE


Dona Margarida, uma senhora idosa , costumava aparecer de quando em quando na casa de tia Lila,lá pelas bandas do Rio Bonito, proximidades do parque aquático de Irati.
Animada, boa contadora de causos ,tomava por vezes uma biritinha que era apenas " pra espairecer as dores da saudade" e...pitava.
Como pitava !
Carregava sempre entre seus guardados um bocózinho (a capichuka) com fumo "do bom", segundo suas palavras, e um maçinho de palha no bolso do vestido.
Naquela tarde de sábado, aportara à casa de titia para passar um fim
de semana com a amiga.
O trecho era longo, vinha lá do bairro Dalegrave até o Rio Bonito, outro extremo da cidade ,à pé.
Naquela época não havia ônibus fazendo a linha por aquelas bandas.
Chegou, "amoada", sêca por um cigarrinho !
Procurou pela "capichuka" e só então percebera que a havia esquecido.
(Auto puniu-se com meia dúzia de impropérios, escolhidos  a  dedo , daqueles bem típicos de sua coleção)
Tia Lila, que acabara de desenfornar umas cucas de bananas, havia raspado em uma das formas a parte debaixo que queimara-se por ter passado do ponto.

Dona Margarida, observando aquela coisa preta, finíssima ! Foi logo imaginando tratar-se de fumo.
[ E muito bem cortado ! ]
Meteu a mão no bolso, retirou uma palha, lambeu-a em toda a extensão e a
recheou com o que ela imaginara ser um fumo muito bem picado.
Torceu o cigarrinho e dirigiu-se à porta do fogão à lenha onde foram infrutíferas as muitas tentativas de ascende-lo.
Irritada foi logo dizendo:
PQP ! Que fuminho lazarento essa praga ! Não queima nem com reza brava !
Da proxima vez ,dona Lila, não compre fumo macaio.

Joel Gomes Teixeira