FILOSOFIA DE BOTEQUIM E O INEVITÁVEL.

Quem ainda não se colocou no centro da aridez do deserto que pode ser a própria vida? Sem cor, sempre atirando setas para alvos ficcionais sem resultado.

A sorte é lançada, costurada no entorno do que se vive e com quem se vive, o produto do meio não é inverdade, é parte que secunda o DNA. Ninguém põe de lado o seu destino, ele é implacável. E por vezes trilha calamidades.

Quem ainda não parou um instante sequer questionando sobre sua segurança? Para os inseguros, maldições, apoiados em tábuas de salvação que não salvam, naufragadas na história e assim ficam engolidos por sua própria história.

Quem não se perguntou sobre sua vasta insegurança que procura a segurança? E perde-se sem achá-la, vagando entre irrealizações e derrotas, obscuridades e cegueiras. Não logram sinaleiras que minimizem esse estado de fato, apesar de presentes alertas.

Quem não criou mitos, deuses e crenças como salvação de suas fragilidades pessoais?

E sucumbiu, palmilhou lutas sem vitórias, sucessos terrenos frustrados. Sem resolver o menor, suas necessidades sociais e pessoais, sobrevivência digna, fica cada vez mais distante a grande questão maior, uma existência que passa rápido e o “para onde vamos”.

Quem não procura a paz das certezas na enciclopédia de suas incertezas? E nada encontrou, nem réstea de luz.

Só uma palavra é capaz de sintetizar toda essa saga de procura por segurança, só um vocábulo pode pacificar toda essa contenda interior, essa luta para alcançar fora de nós o impossível, e as vezes, e pior, o que está nos outros, seu nome é aceitação.

Só se encontra segurança diante das imprevisibilidades quando a segurança não é procurada, mas pelo processo de aceitar o que reserva a vida para cada um de nós, simplesmente aceitar o decurso da vida e suas ocorrências.

Só se encontra paz na guerra que vence a certeza da incerteza e aceita esta como verdade absoluta superando a ausência de previsibilidade que se esfumaça na aura dos oráculos vazios quando se aceita a inevitabilidade. É difícil, mas inevitável aceitar um destino vazio sem muita abrangência.

É preciso uma doação de si mesmo no processo da aceitação, somos resultado do que se arrazoou na abertura, doar-se ao inevitável seria como um despojamento do monge no recolhimento monástico, um sim à inevitabilidade.

Somos a aceitação da entrega, a energia que passa pela vida sem a indiferença inconsciente da vida passar por você.

Nessa inevitabilidade nascem as ocorrências que vão fazendo a metamorfose no fenômeno da vida, e da escolha; e muitas vezes se desemboca na filosofia dita de botequim, que é humana, avassaladora e real, mas não abre portas mais elucidativas. Nem por isso se deixa de usufruir o dom da vida.

Mas é nessa arena de pesquisa sobre o problema da vida e de Deus, principalmente este, e os ensinamentos de seu Filho, com sua Lei Moral, que são colocadas essas questões com suas consequentes projeções para a humanidade como se tenta configurar na educação de sua existência, e que aflora clara, desde que discutida com sinceridade e apuro pela teoria da causalidade superiormente colocada por Aquino. É ela que fraciona, resolvendo, a grande procura. Isto para que possamos atingir uma saciedade pessoal sem nos debatermos em desgaste comprometedor de ideais irrealizáveis.

No seu sedutor envolvimento como homem interiorizado indica Gandhi: “A Verdade é Deus e Deus é Verdade. A soma de tudo que vive é Deus. Podemos não ser Deus, mas somos de Deus, assim como uma pequena gota de água é do oceano”.

Adolfo Levi, da Universidade de Pávia, professor de filosofia incrédulo que não conseguiu afastar de si o mundo das realidades, o Absoluto intangível, não podendo de forma alguma descansar nas certezas de suas negações, confessa: “A minha dúvida é, sobretudo, tormentosa e dilacerante porque me deixa sem resposta em face do drama da vida e da morte, dos problemas da dor e do mal e não me permite afirmar nem mesmo supor que as lutas e os sofrimentos dos seres vivos tenham uma finalidade e uma razão de ser, que a existência possua uma significação e um valor.”

Confissões doloridas como a do filósofo Levi induzem a gigantesca dificuldade que a inteligência mostra como problema primeiro da vida; é questão racional de ordem. Compreende em parte quem exaure o processo cognitivo, de conhecimento puro, sem tocar, contudo, no privilégio incomunicável da Inteligência Infinita, pois não é dado tocar.

Disse Pierre Loti: “A verdadeira ciência já não tem a pretensão de explicar que tinha ontem. Cada vez que um pobre cérebro humano da vanguarda descobre o porquê de alguma coisa é como se conseguira forçar uma porta de ferro, mas para abrir um corredor mais sombrio que leva a outra porta mais selada e mais terrível. A medida que avançamos, adensam-se o mistério e as trevas e o horror aumenta.”

Nós, pobres coitados, se muito, grãos do cosmos, questionando o inquestionável, enfrentando o inevitável, pretendendo explicar o inexplicável, como crianças em folguedos não permitidos, inteligência pequena, passos curtos pretendidos gigantescos, sem nada saber sobre a vida e seu surgimento e pretendendo assentar discursos sobre a morte, e a vida de percalços vivida, penetrar nesses segredos grandiosos, da alma, santuário inexpugnável, e se esforçar para ir além, para entender o pensamento, limitado à barreira de rede elétrica de neurônios. E queremos resolver os problemas do mundo, sociais, se nem os nossos de sobrevivência conseguimos resolver. E queremos resolver o de todos que a história das ideias não resolveu.

Seríamos idiotas? Creio fortemente que a idiotia ganhou dimensão desmedida.

Lá no botequim se discutem verdades possíveis, é lúdico e distraído, o futebol, a vergonhosa política, de partidarismos cúmplices sem exceção no interminável balcão de negócios, que rouba e se vê na televisão e nada acontece, e o aplauso de alguns para quem roubou muito permanece, alguns condenados, outros na “boca de espera”, na justiça que não é rápida por abrirem as leis uma defesa extravagante, em ritos e formas. Nenhuma pena vai educar o mau caráter, conta a história repetida. Só se reeduca – princípio binário da pena, reeducar e retribuir – quem um dia foi educado.

E o fim do ano chega e o cartão de crédito sufocado é discutido nas rodas dos botequins, e se verá um pouco mais de oxigênio com o décimo-terceiro, se pago, com governos falidos pela usurpação em cumplicidade de largo espectro partidário, com golpistas e golpeados, estes perdendo a maior parte, o que incomoda.

Verdades alcançáveis diante da eternidade são de outro estamento, do inalcançável, fiquemos com nossa pequena estatura e gastemos nossas restritas luzes com as verdades que estão sob o arbítrio de nossos sentidos. E as vezes no botequim.

Ou armazena-se e vive-se uma jornada traçada pelo entorno, o homem é um produto de meio, mais o ribonucleico descoberto por Francis Collins, o mapeamento da vida. Sem condições de melhorar o azedume alguns entre complexos e frustrações vão levando e esperneando. É da vida. O sabor féleo escorre de neurônios contra o que nada se pode fazer. É a compensação, um verbo gasto vindo da etiologia com as marcas do entorno.

Ninguém quer ser alijado, os com quem a vida foi dura, por limitações de chegada e falta de capacitação.

E disso não se pode escapar, nem se tem culpa, a origem está no ácido ribonucleico. A condição situa a cena. Caminhos indesejados das dependências todas, emocionais, claras e visíveis, nos que contrariam a clareza do que está assentado como pacífico entendimento comum. O mais simplório homem distingue o que é comum e já estabelecido como diferença do que não se pode contestar. É inevitável.

Ninguém cai de alturas que não pode subir, ou pode dar fortes voos no seu restrito espaço, um quintal paroquiano, nasceu assim, mas quer usar as asas da águia. Compreende-se. Mas as águias voam alto e tudo veem.

O entorno permite por vezes esse pódio, “rez- de- chaussèe”, em diminuto quintal. Se dá alguns passos pensa que caminhou todo o périplo do planeta. É normal que assim seja, e articula algumas superficialidades e se pensa um dos maiores físicos já surgidos, um dos festejados matemáticos nascidos, Laplace, ou se pinta é aquele pintor maior desconhecido por todos, Van Gogh, ou um expoente literato que glosa textos de outros achando que passa despercebido, como Saramago, o Nobel que quis afrontar a professora primária e dela se vingou na sua escrita revolucionária.

E nós devemos atendê-los em suas necessidades, sendo benevolentes por cristianismo.

O que nos cabe?

Ninguém pediu para chegar, TODOS SOMOS SEMENTES DE UMA GRANDE COLHEITA E DESTINATÁRIOS DAS FORÇAS QUE IMPULSIONAM NOSSAS VIDAS.

NADA DO QUE NOS PERTENCE NOS SERÁ RETIRADO, NADA DO QUE NÃO É NOSSO NOS SERÁ DADO.

O QUE SE PERDE NA VIDA É O QUE SE DEIXA DE VIVER E PODIA SER VIVIDO. A MAIOR DAS MORTES É NÃO VIVER O QUE ESTAVA AO ALCANCE E LAMENTAR O QUE NÃO SE VIVEU.

SÓ O TEMPO É O GRANDE SENHOR DOS RUMOS DO FUTURO, SÓ O TEMPO É EXCLUSIVA TESTEMUNHA DA HISTÓRIA, DO PASSADO, SÓ O TEMPO SABE O QUE OCORREU COM O COSMOS, COM O MUNDO, COM O NOSSO PLANETA FRACIONADO EM CONTINENTES ANTES DE SER UNO.

SOMOS VIAJANTES DESSE DESTINO QUÂNTICO E QUESTIONADORES DO DESCONHECIDO INALCANÇÁVEL. POR TODAS ESSAS RAZÕES NEM OS LAMENTOS NEM O “QUE NÃO FIZEMOS” SERÃO ELEMENTOS POSITIVOS DA EQUAÇÃO DE NOSSAS VIDAS.

A FELICIDADE PERDIDA É A QUE FOGE POR ENTRE NOSSOS DEDOS COM A MÃO FECHADA QUE QUER REPRESAR O QUE NÃO NOS FOI DESTINADO QUANDO PODERIA ESTAR ABERTA PARA USUFRUIR O QUE LHE CABIA, A FELICIDADE CADA UM DENTRO DE SEUS LIMITES.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 13/02/2018
Reeditado em 13/02/2018
Código do texto: T6252526
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