"POBRES DE ESPÍRITO".

DO MEU LIVRO " A INTELIGÊNCIA DE CRISTO".

"PRIMEIRA BEM-AVENTURANÇA.

“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”

POBRES DE ESPÍRITO.

Promete Jesus o Reino dos Céus aos pobres de espírito.

Quem são os pobres de espírito (ou pobres em espírito) e que seria o Reino dos Céus? .

A primeira vista, dirigida a leitura para pobreza “em espírito”, nesse sentido, como querem alguns, pareceria que seria a ausência de espiritualidade, presente somente a matéria. Inexistiria para as pessoas “pobres em espírito” exercício espiritual e restaria o terreno da exclusão, que não só Cristo repelia como torna-se impossível somente vida corpórea sem junção à alma, ao pensamento, ao espírito. A prática espiritual e sua diversidade é outro tema.

Bem-aventurado no grego clássico, Makariori, significava felicidade, boa sorte, bem estar.

Os clássicos da iluminada filosofia grega, ponto de partida da filosofia como um todo na expressão da filosofia universal, se valiam do vocábulo em saudações coloquiais, comunicando seus votos de felicidades, bem como sinalizando e apontando os bem nascidos, educados e felizes. Eram os bem-aventurados.

A expressão "pobre de espírito", em contrapartida, na época de Jesus Cristo, era usada para aqueles que não possuíam bens materiais, eram então os simples, os humildes, contrariamente ao que configuravam os fariseus, entendidos como possuidores de um espírito muito adiantado. E os fariseus eram os escribas, cobradores de impostos e componentes de casta elevada socialmente, membros de grupos religiosos judaicos originários do século II AC, que se submetiam ao rigor da fidelidade às sagradas escrituras. Em suma, no entendimento usual seriam os bem-aventurados. Jesus posicionou valores em testilha, em confronto com o perfil à época. Mostrou valores maiores na bem-aventurança.

E o fez diversamente de hoje, guardadas as proporções e a evolução das sociedades e, pode-se dizer, de então, quando pela afirmação superior suprimiu o privilégio e os pressupostos dos bem-aventurados na compreensão da escola grega filosofal, pólo irradiador de cultura longevo e fortíssimo.

Para Jesus os que estavam distanciados da sorte eram os bem-aventurados. Os deserdados da posse de bens materiais. Era a antítese da tese nessa época, naquela oportunidade, segundo os costumes.

"Espírito" era e é utilizado como componente superior do homem, significando a imaterialidade do ser humano, sua parte mais nobre, “sopro do Criador” nos textos bíblicos, princípio elevado incorpóreo com origem sobrenatural, consciência de si mesmo, inteligência, razão dirigida e firme na manifestação da vontade que se exterioriza e projeta modificações no mundo exterior, enfim, o lado do homem que o faz sobressair de sua condição humana fragilizada e fugaz na posição de matéria, onde nada mais somos do que pó animado enquanto vivemos e inalamos oxigênio, mutação serena e bela da natureza nos ciclos, pois a morte é o fim de uma vida e o seguimento da vida. A morte é o fim da busca incessante de uma energia maior quando existência de vida corpórea até seu encontro em nosso interior e seguimento de matéria na transformação permanente na cadeia de causa e efeito a que todos estamos ligados inexoravelmente. São assim, a morte e a vida, uma e a mesma coisa.

É como o talento de Khalil Gibran definiu, harmonizando a dúvida: “é somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar”, “e somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir, pois o que é morrer, senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?”

Nessa sintonia de serem uma e a mesma coisa a morte e a vida, fosse a vida só essa terrena passagem, efêmera e transitória, não passaria de uma piada, posto que pequena, irrazoável, tola, um ser e existir em preto e branco, descolorido, sem arte ou enfeites, com felicidades que sempre se terminam na dor e no sofrimento. Alegria que tem no fim a tristeza não é alegria.

Muitas mentes aguçadas elegem tais conceitos como claros e intransponíveis. Shopenhauer, filósofo alemão, afirma: “As alegrias da vida são como esmolas colocadas no prato do mendigo. Com elas consegue sobreviver para continuar na miséria”. Essa visão pessimista é dura e cruel, mas não é hipócrita. Não poderia a grandiosidade da vida de uma pessoa reduzir-se somente a esmolas passageiras de alegria, afastada de uma alegria eloqüente e consoladora das aflições terrenas, assim sendo realmente seria nada mais do que miséria espiritual.

Podemos colocar na dicção do Padre Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, essa capilaridade dos dois estados, vida e morte, pois, no seu entendimento “o invisível é mais real do que o visível, porque nosso coração não foi feito para o invisível”. As coisas palpáveis são ilusões. Depois da perda de um ente querido, de sua morte, compreende-se que a vida é uma ilusão que mata. Entenda-se bem, a vida é uma ilusão que mata. Ocupam o mesmo espaço a vida e a morte

Portanto, são dois estados de um mesmo acontecimento, elos de uma mesma corrente. E todos somos iguais, os pobres materialmente, espiritualmente, seja qual for a abordagem cultural de conceituação. Mas vale a advertência para quem se julga melhor que seu semelhante ou aspira ser. Se somos todos desiguais em genoma (DNA), digital e traço de escrita, somos inteiramente iguais como pessoas.

Fica certo, portanto, que a bem-aventurança é de todos, e mais importante, dos humildes, ainda que aquinhoados cotidianamente de bens materiais, deles não se apegando nem os colocando como valores maiores, portanto e também, dos humildes em espírito, dos que sabem que nada sabem por maior que seja o preparo absorvido, pois estão entre aqueles que distinguem não serem nem um grão de areia no imenso planeta Terra, pois esta já nada é diante do universo. Estes humildes que amealharam saber conhecem o tamanho de suas restritas dimensões, por mais que tenham domínios culturais acumulados. O monopólio do saber inexiste e quando se atinge grau elevado de conhecimento mais inferiorizamos a conquista do saber por saber que nada se sabe. É o princípio socrático: “sei que nada sei”.

Muitos não compreenderam satisfatoriamente a bem-aventurança, diante da necessidade, como fato histórico que é, de ser abordada pela ótica da compreensão histórica temporal, dos usos e costumes do momento vivido por Cristo e da semântica do vocábulo. As expressões em variadas épocas têm significados diferentes, por isso, muitas vezes, inexiste entendimento do que seja “Bem-aventurança” hoje e no tempo da sua exortação por Jesus Cristo. As sociedades vivem em permanente mudança institucional-cultural. Ensinar por parábolas, por exemplo, na época de Cristo, era além de moda do momento cultural indicativo de erudição.

A humildade, o despojamento de vaidades, receber elogios exaltadores com as limitações que se impõem, sem valorizar ao extremo ou mesmo acender o orgulho e a pretensão em ser ou saber mais, são referências da humildade inserida no ensinamento da inteligência do Cristo. Pela simples razão de que a conduta pretensiosa em se elevar acima dos outros, diminui a percepção, nubla o entendimento e barra energicamente o maior estágio do pensamento a que poucos chegam, a compreensão. E a inteligência do Cristo abre na simplicidade do verbo a recepção para a sabedoria. Ninguém que alcança maior esclarecimento desconhece que o caminho para mais esclarecer é infinito. Se sobre a pessoa se abate a pretensão de ufania de ser ou saber mais do que os outros, os que o cercam, está acionado o freio para nada mais saber. “Tú te fazes grande quando tú te fazes pequeno”, advertia a inteligência do Rabi de Nazaré.

É a imposição da fronteira para se ir em frente evoluindo em ser e existir como pessoa, impulsionado pela ausência de pretensão que forra e semeia a sabedoria habitante da humildade. Por isto o óbvio é pouco percebido e a simplicidade quase nada exercitada.

A soberba e o orgulho da pretensão em serem depositários da verdade, concentradores do saber, como articulam e pretendem hoje muitos dos líderes mundiais com inegáveis seqüelas para os povos, induzem a desvalia e o demérito dessas atitudes, tanto desastrosas como ineficientes. Salomão, sob esse aspecto, deixava claro que a bondade e o amor ausentes nos que governavam, impondo o exercício arbitrário das próprias razões, fariam tais governantes sofrerem o rigor do julgamento máximo de Deus.

E assim disciplinou de suas observações sobre o desenrolar dos tempos, do seu reinado que restou para a posteridade em testamento de tesouro imperecível nos seus "Provérbios", "Cântico dos Cânticos" e "Eclesiastes", livros exponenciais bíblicos. No primeiro, tinha como tema recorrente o temor a Deus. Continha a consciência de que a sabedoria perderia seu sentido se não fosse guiada, especialmente em termos éticos e morais pelo temor a Deus, somente adquirido através do estudo da Lei e da prática de atos de bondade. Nisto, Salomão era pródigo. Já antevia a nova aliança na promessa do antigo testamento.

E não só nos que governam impõe-se exercer a bondade e a caridade, afirmava, mas em todos que têm obrigação com seus semelhantes, pregava o filho de David, por este escolhido para reinar entre seus muitos filhos.

No julgamento de Salomão, na forma como aconselhava sua sabedoria aos reis que não guardavam valores indispensáveis, a humildade acompanhada da bondade, mãe da caridade, era a primeira e última razão de tudo. O sábio dos sábios, que Deus abençoou com todos os bens em profusão, a ponto de outros reis ficarem extasiados diante de tanta riqueza e sabedoria, até mesmo com o luxo e o fausto com que se vestiam seus escravos, era o oráculo dos outros governantes.

Olhemos a nossa volta quanta indiferença se espraia no mundo nos relacionamentos de sangue e emotivos. Pais com filhos, filhos com pais, companheiros com companheiras, irmãos com irmãos. Quantos pais abandonam os filhos, lhes negam alimentos; quantos filhos se lembram de acarinhar os pais, socorrê-los quando velhos, agradecer por tudo que lhes deram e por eles fizeram? Se já se foram, quantos lembram deles em suas orações? Quantos reverenciam suas memórias mesmo que não sejam devedores de maior assistência material? A bondade e a caridade pregadas por Salomão não integram o código da maioria.

A pretensão em estar acima das regras que presidem a ética e os sentimentos povoa tais condutas. Temos assim, também, o afastamento dos padrões impositivos da humildade nestes posicionamentos. Se baseiam tais pessoas em que somente suas práticas e posturas são as admissíveis, corretas. Não têm padrão referencial básico. Seriam elas a regra ou a exceção? Só eles e suas consciências podem responder.

Vivemos em comunhão social ainda que com todos os antagonismos existentes, é como se fosse um casamento coletivo, não podemos subjugar (ação), nem nos omitir (inação), negar solidariedade ou ignorar o que ocorre a nossa volta, pois como em um casamento, havemos de participar sem avançar em individualidades, como adverte Khalil Gibran em “O Profeta” para os casados, em magnífico exemplo, para que bebam juntos, mas que haja espaço para não precisarem beber no mesmo cálice.

Sem humildade não passamos de peso morto assistindo sem ajudar àquele que de ajuda necessita. A pretensão faz o pretensioso estar acima da necessária ajuda seja ela qual for, embalado na arrogância de sua distância, escudado por sua intocabilidade. O egocentrismo dita o caminho do arrogante. O pregão do Cristo em sua inteligência, que apanha a todos para que sejam humildes na totalidade dos sentidos, para que sejam solícitos e presentes sempre, aponta para o eventual desvirtuamento do chamamento, forma pela qual ficamos expostos às penas da consciência, se a temos, e do nosso particular juízo final.

Requer humildade mesmo o conhecimento puro e simples que estabelecemos na vida com muitos seres humanos, fora do âmbito familiar, na vida profissional e coloquial, com a maioria das pessoas de nosso relacionamento, muitíssimas vezes pessoas diametralmente opostas a tudo que somos, representamos e pensamos, algumas vertiginosamente distantes em princípios e por vezes muito próximas. E convive-se sem esforço, devendo sempre, se melhor aprendizado tivemos, mostrar humildade do pouco que apreendemos e sabemos, ao menos aos que não são íntimos.

Conviver não é admirar e ter respeito, é estar junto. Respeitar é senso de caráter geral. Outra coisa é a admiração. É preciso admirar o caráter do que esteja próximo para recebê-lo em nosso sacrário interior na “Jornada da Vida”, não basta conviver, conseqüência social. Conta-se em poucos dedos de uma das mãos os que podemos receber em nosso interior com admiração, por serem bons de coração, humildes, úteis aos semelhantes, não egoístas, superiores em ação e conduta, bondosos e caridosos como ensinava Salomão. Mas é justamente para os que têm perfil indesejado pela inteligência do Cristo que devemos abrir nossos corações para que possamos, dentro do possível, mostrar o que são os reais caminhos do Senhor.

Salomão, de suas observações sobre o desenrolar dos tempos, concluiu que "nada é novo debaixo do sol" e, deplorando a frivolidade humana, declarou: "Vaidade de vaidades. Tudo é vaidade". Isso em confronto com o orgulho presente em tantos e tantos seres humanos, orgulho que caminha desenvolto pelo planeta em todos os tempos, acompanhado da pretensiosa falta de humildade.

Muitos ficam chocados e altamente surpresos quando alguém que podia ascender a cargos mais altos deles abre mão com tranqüilidade ou ainda em condições, embora inaceitáveis, de assumir conduta presunçosa, pondo-se distante e altivo por força de seu poder material ou intelectual, não o faz. Não compreendem o desapego a títulos e reverências. Não conhecem em toda extensão a riqueza interior e muito menos os valores distantes da corrida diária a que todos se submetem, em favor da materialidade pura e simples, em prejuízo da sua espiritualidade que não está ao alcance daquele que não a procura, cultua e cultiva.

O que vejo e tenho testemunhado em minha vida particular e pública, com soma majoritária, é vaidade e tolice; vaidade mesmo que inexistam títulos para os que se pensam importantes, tolice na pretensão vazia de forma e substância, e pior, pouca utilidade, total falta de humildade e nenhuma bondade.

Sempre ouvi meu pai afirmar que a vida é utilidade, ou seja, a vida só tem sentido tendo utilidade. O monge Hsing Yun, fundador do Templo Zu Lai em São Paulo, cunhou esta frase: “o valor do ser está em ser útil”. Isto significa ajudar e servir de alguma forma. Mas a vaidade, que é berço do egoísmo, não permite a prática do “amor, da compaixão e da bondade, qualidades muito úteis para vivermos nosso cotidiano mais harmoniosamente, o que é muito importante para a sociedade como um todo”, como declina o Dalai Lama.

Vale lembrar e reportar a propósito do estigma que representa a vaidade, visita que fiz a um famoso cemitério, onde extraí de um talentoso guia verdades contundentes sobre a vaidade que relato.

Lendo revista semanal que é publicada em Paris, Pariscope, dando todos os acontecimentos da semana em geral, eventos, desde concertos em igrejas sem ônus para a récita, também exposições, li em "promenades", passeios, "visita guiada ao cemitério Père Lachaise" com especialista no sítio.

Indicado o local de encontro para lá me dirigi, espaço que já tinha visitado não com tanta informação como as agora obtidas, onde celebridades várias da história mundial, de todos os matizes, se encontram sepultadas, local de arte invulgar da estatuária, doado pelo Rei Sol, Luiz XIV, ao seu confessor, Padre Lachaise, transformado em cemitério anos após, sendo antes lagar (produção de vinhos), resolvendo problema sanitário sério de sepultamentos na cidade.

No portão indicado para o encontro estava o guia Thiery Le Roy, era seu nome. Indaguei se era ele o guia e travamos o primeiro contato. Figura interessante, amante do Rio de Janeiro onde desfilou em várias escolas de samba; Beija-Flor, Portela e outras. Elogiou a estatuária do São João Batista, que inclusive tem em seu site o túmulo de Santos Dumont. O guia não era uma pessoa qualquer. Como indicava o anúncio era extremamente culto, conhecia toda a vida dos célebres sepultados bem como dos escultores famosos, cercando suas considerações de notável humor, inclusive.

O guia em três horas e meia de brilhantismo encerrava seus comentários sobre as celebridades, todas poderosas, principalmente quanto aos marechais de Napoleão como Lefebvre, dizendo, mas estão aqui, também, todos mortos. Fazia questão de enfatizar a derradeira condição humana. O mesmo com Proust, La Fontaine, Molière, Balzac, Delacroix, Piaff, Chopin, o próprio Kardec e tantos e tantos outros. Era seu acento permanente a mostrar que somos todos iguais, o que poucos entendem, independente de poder, talento ou riqueza, as metas candentes do ser humano, pretendidas e almejadas.

Somente a Napoleão, o primeiro, ele referiu que, para ver onde está sepultado, há que se ir aos "Invalides", Inválidos. Mas acrescentou, também está morto, "ce lá tuée". E lá está o grande conquistador, Napoleão I, em sete caixões de ébano, chumbo e outras nobres madeiras, o que me impressionou a primeira vez que lá fui, no monumental "Invalides", (Inválidos), homenagem aos mortos e sequelados nas guerras napoleônicas, cercado o túmulo de doze virgens esculpidas por Pradier, renomado escultor da época, com a abóbada do edifício vista brilhando de quase toda Paris em dia de sol, já que coberta de camada de ouro de alguns milímetros de espessura, reposta a cada cinco anos. Mas está morto, também, como deixava sempre patente no Père Lachaise, Thiery Le Roy, o notável guia. Monumento majestático, ao qual fui algumas vezes diante da suntuosidade e beleza; mas guarda restos mortais.

E guarda também a vaidade do Imperador, era seu título.

O especialista e preparado guia nos deu prospectos. Em um deles está escrito, "O Cemitério Pére Lachaise é um teatro onde vivem os mortos e se colocam em cena sobre o tema das paixões e das vaidades humanas. Eu vos convido a me acompanhar ao grande espetáculo da vida e da morte".

A vaidade humana, o grande mal da humanidade!

Napoleão, o grande conquistador, exercendo ao máximo sua vaidade, colocou-se em estátua vestido como um “Imperador Romano” no alto da colunata, na Place Vendôme, Paris, com 43 metros de altura, cópia da coluna Trajano Romana, em formato cilíndrico com grafias evocando suas conquistas, construida com o bronze dos canhões conquistados na batalha de Waterloo. A coluna da vaidade e da soberba.

Foi pensando na aula de vida que recebi na visita guiada, que na viagem de volta considerei ao que se vê e fica patente, nada importar para o interior humano, para o enriquecimento de sua vida interior, anímica, valores intrínsecos. Superam-nos, por claro, conquistas da ciência com a relevância no campo científico da figura de um Isaac Newton, matemático, físico, astrônomo e filósofo inglês, apontado por muitas inteligências indiscutíveis como o mais revolucionário em descobertas, o ser destacado que identificou as leis da atração universal, 1687, além de formular em 1669, com aproximadamente vinte e sete anos, a teoria da luz branca, achando ao mesmo tempo que Leibnitz as bases do cálculo diferencial.

Capitaneando essas conquistas da ciência, a vaidade e a arrogância nunca se inibem em acumular honrarias de pouca expressão, sem dar espaço à humildade. Se muita relevância no progresso material e científico traz e trouxe a ciência para a humanidade, muito pouco trouxe de paz e compreensão para o espírito Da evidência não se colhe nada mais que a certeza.

Temos por exemplo a descoberta da lei gravitacional que mudou o conceito do planeta em ciência, isso não muito longe, no século XVI, confirmando as leis de Kepler, tudo datam menos de quatrocentos anos.

Em contrapartida nada se compara à grande transformação da humanidade que chegou antes com a semeadura espiritual do Cristo. Não foi a ciência que lembrou ao homem seu grande diferencial. Não foi a lei da gravidade, mas o amor do Cristo e sua inteligência, imutáveis e perenes, os grandes veículos lineares que alteraram de forma inigualável as relações do homem, do convívio sob quaisquer ângulos, religiosamente, filosoficamente, moralmente, enfim, socialmente, em vetores com interação plena impulsionadores do homem em suas manifestações grandiosas e celebradas do pensamento.

Assinalando a vida no planeta, sua temporalidade, o Deus-Homem marcou o tempo, antes e depois de sua chegada, quando anunciou ao mundo a boa nova da ausência de egoísmo; o amor ao semelhante. É a única doutrina sempre esquecida, posta de lado por aqueles por quem Ele derramou seu sangue para afastar de todos qualquer possibilidade de vaidade, embora ela persista. Não há maior humildade do que se deixar crucificar, se entregar ao suplício sem reações, Aquele que veio como filho de Deus. Não há passo que se dê sem estarmos diante dessas irradiações fortemente incisivas. Existe um elo único com centro de gravitação, não a de Newton, física, material, mas dessa força singular de luz, luz espiritual, ligando a tudo e a todos. É perceptível, uniforme, aproximada pelos sentidos, pois gera a dinâmica em cadeia que movimenta tantas outras vocações célebres, arrastando desde invulgares exteriorizações do intelecto, modificadoras de costumes e regras, até os mais simplórios e primários entendimentos.

Há uma coesão nessas construções do pensamento, dos mais simples aos mais festejados e reconhecidos. Há uma latência de movimento que aproxima, uma instância de convergência. É o que Jung chamava de inconsciente coletivo que como ondas fluem e refluem, sem exceção, nunca com a mesma força de notáveis personagens alinhados à doutrina do Cristo que vieram ao mundo exclusivamente para melhorá-lo, mas inseridos também no processo histórico-evolutivo. Todos, grãos da mesma praia arenosa, densa e de proporções eternizadas no processo evolutivo. Muitos seres públicos fizeram-no com formidável grandeza, outros na intimidade de sua singeleza; mas a marcha de todo esse contingente humano está guiada, mesmo sem sabê-lo, por suas predestinações originárias. É a incansável procissão da esperança onde a corrente da humanidade se insere através dos movimentos que apuram as sensibilidades e reconfortam àqueles que se entregam a esse ideal com todas as forças pelas conquistas que objetivam burilar e lapidar o interior do homem.

O eixo, a força motriz dessa marcha é a doutrina do Cristo, sua inteligência. Qualquer movimento que se encaminhou ou se dirija à igualdade na história da sociedade, prega o reconhecimento do semelhante como pessoa, como igual, detentor do direito natural de todos. Não há como escapar dessa verdade e tudo que se colocar contra a mesma é falácia, sofisma e erro gigantesco, primário, contraditório, grosseiro.

São essas forças monumentais que se inscreveram nos portais da humanidade, as mais iconográficas, que se espaçam e continuam a exercer sua dominação benéfica, espiritual. Assim, queiramos ou não, o expurgo se dá, as segregações dos reais valores do ser humano vão sendo extirpadas, a vaidade, filha do egoísmo, de alguma forma é execrada, expurgada, mesmo aos poucos, pois tudo que existe de bom ou de mal é cumulativo. Se mal, tem um ponto de necrose, se bom, de reconhecimento.

A humanidade caminha para melhor, mesmo a curtos passos. E essa depuração de ancestralidade ocorre pelo "Karma" que não se confunde com o transcurso espiritual ensinado por Buda, mas é o resultado genético de cada ser último de determinada linhagem de ancestralidade; cada um é, segundo a teoria de evolução de Huxley, resultado final de sua linhagem que por milhares de anos marcou a primeira chegada ao Planeta Terra do personagem humano. Ele será ou não um aliado do bem ou do mal. Se aproximado do Cristo frutos bons dará, pois nunca ocorreu de árvore de boas raízes dar péssimo fruto, invertendo a ordem natural das coisas.

Daí sermos tudo e todos uma coisa só.

Nessa junção está o sacrifício do Cristo e a comiseração universal, esta pouco assimilada nos dias atuais por força da diminuída interpretação do profundo sentido da igualdade, desprezada e de fácil visibilidade tal postura.

Mas como ensina o tempo, senhor da razão, o mal e o bem são cumulativos, levam à unção pelo reconhecimento ou à execração pelo descrédito. Exortemos todos, em uníssono, "o mal não é necessário", como doutorava Tomás de Aquino, e a vaidade, que compromete a doação e a boa vontade, é execrável.

Durante o sermão da montanha o mestre Jesus afirmou: “bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.”

Ainda hoje muito se fala sobre tal ensinamento, muitos sem dar realce ao grande espectro que alcança a ponderada e instigante afirmação.

A proclamação de Jesus aponta o Pai, indica que Deus quer espíritos ricos de amor, de humildade, e pobres de orgulho como se analisou, independente de temporalidades, épocas e costumes, pois Cristo falou para os tempos.

Os espíritos enriquecidos de sabedoria e conseqüente humildade, avessos aos píncaros e alturas de glórias hipócritas e enganosas, são aqueles que acumulam tesouros que não se confundem com as riquezas da terra. Essas riquezas imateriais fazem parte do patrimônio indelével dos que conquistaram tais valores que são insubstituíveis e isentos de perda.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 13/02/2018
Código do texto: T6252520
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