LIMABARRETEANDO...-PARTE II
Aprovado em 1897, mas não pôde completar o curso de engenharia. No retrato de sua turma na Escola Politécnica, o adolescente LIMA BARRETO não olha para a câmera, olhar fixo para o lado... Síntese ou metáfora de seu deslocamento ao longo de toda a vida. Negro, nascido em 1895, pai tipógrafo e mãe professora, diretora de escola, teve educação formal como poucos 'pobres' da época. Tempo da ascensão do racismo científico, vinculando raça e degeneração. Absurdices, falamos hoje......... mas o pai enlouqueceu, "confirmação" injusta das teorias, depois o filho na derrota contra o alcoolismo. Atividade principal na imprensa. Foi jornalista-contista-cronista-ensaísta-romancista. Fez uma literatura afirmadamente negra, quando a questão da raça fundamental, ou seja, pan-africanismo e associativismo negro não eram temas da agenda brasileira. No complexo Brasil pós-abolição, muita angústia. Os pais do escritor descendiam de escravizados porém só é conhecida a ascendência feminina - para JOÃO HENRIQUES e AMÁLIA AUGUSTA, a verdadeira libertação se faz pela educação. Órfão de mãe aos 6 anos. LIMA era um leitor voraz; lia inclusive as referidas teorias de sua época, com as quais não concordava. Políticas de hereditariedade?! Mas em 1919, primeira internação, 'reconhece' esta hereditariedade degenerativa e se questiona com temor. Ambiguidades como num casamento litigioso. Contra a ABL, mas quer ingressar......... Profundo impacto com os subúrbios, bairros mais populares, povo sofrido, porém ele educado diferentemente dos moradores....... Contudo, sempre deslocado: no Centro, ele é do subúrbio; neste, ele é de outro subúrbio......... Ele critica os bovarismos, todavia é leitor dos russos e o tempo todo evoca DOSTOIEVSKY......... Rio de Janeiro, ora focalizado sarcasticamente ora melancolicamnte. Tudo surge em sua obra - classe média, meio politico, imprensa, funcionalismo publico e em especial o povo brasileiro. Marginalizado, afastado das elites literárias. Num certo momento, ele professa uma "literatura militante", ou seja, falar das mazelas do mundo, projeto literário pautado na sua experiência. Lnguagem simples e direta. Livro de memórias: "O cemitério dos vivos", fruto de dolorosa experiência passada no Hospital Nacional, internado por crises de alcoolismo. Nada de autor sem imaginação criativa! A persona literária denunciava as instituições vigentes, como Isaías Caminha (1909) e Clara dos Anjos (publicação póstuma em 1922, ano de sua morte). Engraçado que suas fotografias sofreram processo de branqueamento. Definia sua própria cor como "azeitona escura" - branco na primeira imagem do nosocômio, pardo na segunda. Metamorfose em quatro anos.
Hospital - Entrada como indigente no Natal de 1919, Seção Pinel já no dia 16. Idade 33 anos, nacionalidade brasileira, naturalidade carioca, solteiro, funcionário público (amanuense na diretoria do expediente da Secretaria de Guerra, aposentado em 1918), nenhuma referência religiosa. Enviado pela Repartição Central de Polícia. Indefinição da cor? Em todo caso, chegara no meio da noite em carro da polícia, e com outros anônimos: fisionomia conturbada e triste, cabeça virada para io lado, muito mais vencido.
Painel político-social-cultural da época - Insurreição antiflorianista, campanha contra a febre amarela, ação de Rio Branco no Itamarati, política da valorização do café, governo de Hermes da Fonseca, oligarquia política que revezu no poder homens de São Paulo e Minas Gerais (política do café-com-leite), participação do Brasil na I GM, advento do feminismo, primeiras greves operárias, Semana de Arte Moderna, delírio do futebol e do jogo-do-bicho.
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LEIAM meu trabalho "Hora do periquito" - I e II.
FONTE:
"Tom sobre tom" - Rio, jornal O GLOBO, 24/6/17.
F I M