Mais alguma coisa?
O caixa via todos irem trabalhar
e voltarem da labuta.
Viu homens que eram crianças,
e meninas virarem adultas.
Ganhou alguns clientes,
perdeu muitos amigos.
Como um observador da via pública,
começava cedo abrindo.
Viu a vida através de notinhas de papel,
caídas pelo chão.
Aos pedidos de fiado,
ensaiava sempre um não.
Mas falhava, como sempre,
invariavelmente.
Afinal criança sem leite
o ofendia profundamente.
Mãos ágeis,
diploma parado.
O tempo passa lento,
e o coração acelerado.
Sem folgas e sem descanso,
almoço de minuto.
Dá um pulo no velório,
e trabalha de luto.
Passou por roubo,
por assalto e por aperto.
Chama a policia, hora ela vem,
respira fundo e continua aberto.
Devolve sempre o dinheiro a mais,
é a sua conduta moral.
Se pensativo, erra o troco,
em distonia o tratam mal.
Sorriso no rosto,
agrada o cliente.
A idade chega,
o corpo sente.
Pro futuro a responsabilidade,
de trabalhar como missão.
Aceitando-o como prova,
os filhos da nova gereação.
O caixa anda triste,
diferente do normal.
As pessoas se perguntam,
não há motivo para tal.
Aos clientes, que se importam,
ele pergunta em sufoco:
- “E agora, o que fazer?”
Eles respondem:
- "O troco!"