Ele é louco, mas o amamos
Deve ser castigo, andei falando tão mal do mar do Rio Grande do Sul, que, há dois anos, e por problemas de doença em família, não ponho o nariz lá, Deus ou Iemanjá me calcaram bonito. Mas tenho alguma razão, podem crer. Fico procurando o azul ou verde da água, árvores, pedras... Nada, nem uma microenseada. O nosso mar é assim, um areal incomensurável coisa de fazer inveja ao Saara. Mas aquele marzão azul tipo o de Salvador, de Cabo Frio, também não tem, nossa água é “cor de pessegada”, segundo Érico Veríssimo, e bem fria, se tiver um banho de sol antes, vai bater num choque térmico. E haja coragem para entrar, vamos indo aos poucos, segurando na mão de Deus e rogando para que Jesus esteja no comando. Primeiro molhamos os pés, bem depois as canelas e, finalmente, o mergulho corajoso (no máximo com água na cintura). Claro que nos ralamos na areia, mas afinal, um bom peeling nos joelhos não mata. No nosso mar ninguém ousa ir muito longe, temos buracos e repuxos que nos sugam do nada, mas pelo menos os tubarões de Recife ainda não nos alcançaram...
Os dias até que são bem bonitos, temos muito sol e um vento do inferno. Não adianta, o mar é rebelde mesmo. Às vezes acontece de sermos carregados mar à dentro no meio de um aprazível bate-papo. As correntes pegam por baixo, levamos cada cagaço que nem lembramos de reforçar a reza. Já devo ter falado em outra ocasião na situação dos biquinis, maiôs e calções (é de bom alvitre reforçarmos os elásticos), às vezes, perdemos tudo ou quase tudo. No embalo do repuxo, é muito engraçado. É nesta hora que a coisa vira tipo salve-se quem puder, claro que as pessoas preferem se salvar a aparecerem quase peladas na beira da praia, por isto, é até meio normal vermos peitos de fora e bundas brancas.
Sempre gosto de falar do nosso mar xucro e sem noção, mas, assim mesmo, o amamos de paixão mesmo com vento, areia solta, ondas rebeldes, repuxos e buracos. O nosso mar do Rio Grande “cor de pessegada”.
Beijo a todos!