DA ÁGUA PARA O VINHO

O pescador de homens quando decidiu formar sua equipe encontrou em Cafarnaum, perto do mar da Galileia, no “lago de Genesaré”, simples pescadores e após os instruir sobre a pesca no mar, lhes disse: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens!” (Mateus 4:19) Que pessoa com tamanha convicção e fé poderia agir assim? Os escolhidos ao ouvirem aquele homem falar foram quase que hipnotizados, tiveram naquelas palavras e naquele olhar uma certeza, uma persuasão tão incisiva e envolvente que mudaram sua atitude de vida da água para o vinho. Eles não eram os mais exemplares, não eram os mais inteligentes e nem os mais educados. Mas o grande mestre viu neles características que a partir dali os tornariam também novos pescadores de almas e de muito mais por toda a vida. O maestro da existência os escolheu, capacitou e os conduziu para que pudessem mostrar ao mundo a “verdade, o caminho e a vida”. (João 14:6) Ele poderia muito bem ter selecionado homens com perfis mais fáceis de lidar, pessoas de outros universos, mas não, ele optou pelos mais humildes, aqueles que demonstraram em sua boa vontade e consistência um aprendizado para o cumprimento da missão, que a partir dali teriam de vencer.

Diante disso quem pode seguir em frente, quem poderá triunfar e ainda assim revelar talentos? O homem mais inteligente da história não escolheu os capacitados, mas capacitou os escolhidos. Alguns homens renunciam ao materialismo. Outros por motivos espirituais escolhem uma vida devota a ajuda mútua e até renunciam a si mesmo em devoção a Deus e a humanidade. Cada pessoa constrói pouco a pouco sua vida de forma diferente. Alguns alcançam altos cargos, outros sobrevivem e há os que são felizes na simplicidade. Por outro lado há os que apenas reclamam de tudo e de todos, não agem, e por vezes na fraqueza não participam desse universo distinto, voraz e capitalizado. O filósofo Mário Sérgio Cortella nos diz que “a sorte segue a coragem. Mais do que nunca é preciso coragem para fazer, coragem para enfrentar e coragem para buscar as metas, acompanhar as transições e superar as adversidades”. Em conformidade percebemos ainda que as pessoas que desenvolvem uma convicção assídua do que realmente almejam, na maioria das vezes conseguem alcançar o seu intento, mesmo que para isso encontrem muitas pedras pelo caminho. Pode ser também que essas mesmas barreiras fortaleçam o ideal e se tornem apenas mais uma provação para que aquele se encontre de uma maneira madura e equilibrada consigo e perante à sociedade.

Verdadeiramente existem os que em nosso caminho são genuinamente leais ao seus valores e objetivos. Por assim dizer, Fernando Sabino, escritor e jornalista brasileiro, nos instrui que “a consciência é inútil, sem uma convicção adquirida.” E é de se espantar tamanha convicção e vontade de alguns destemidos em conquistar o final expectado. Vale dizer que esses desenvolvem em meio à vida uma necessidade diferente da média das pessoas e que ela somente se satisfaz com essa busca incessante, isto é, tem o desejo de sempre continuar e chegar a resultados maiores e surpreendentes. José Saramago, escritor português, nos conta que “o que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto”. Por algumas vezes podemos pensar que existem diferenças enormes entre a capacidade das pessoas de fazer e realizar. Contudo, podemos compreender que a maioria de nós é capaz de desenvolver ações, de se envolver e de ser bem sucedido quando acredita em si. Quando a fé é maior do que qualquer anormalidade que possa conjurar contra o desejo. Então se projeta uma capacidade de determinação e disciplina que fazem atingir níveis e feitos admiráveis para o bem comum.

Se não fosse assim por que um homem com exímia inteligência e divindade entregaria como exemplo a humanidade pessoas como Simão Pedro, André, Tiago, João e Mateus. Que foram pinçados em meio a sociedade da época e em quem muitos desacreditariam, mas a confiança do Messias depositada naqueles homens superou todas as expectativas. Os ensinamentos que Ele lhes transmitiu e sua capacidade de formar pessoas transformaram a vida dos doze discípulos e a vida de bilhões de pessoas no mundo. Ainda que alguém não tenha consigo desde o início grandes talentos, poderá em razão de sua crença ser o mais esforçado, o mais dedicado na busca dos seus objetivos e no auxílio mútuo às pessoas, seja do próprio lar, de um bairro ou de uma cidade. A convicção, a fé em si, em suas ações e decisões são válvulas propulsoras de transformação social. O talento segue o trabalho, a boa vontade segue o sucesso e a sorte definitivamente segue a coragem!