Enlouqueço na cidade

Silêncio. Tudo o que eu gostaria neste exato momento se resume a isso: ausência absoluta de sons. Tento utilizar meu quarto como espaço de isolamento, mas os barulhos nos cômodos ao lado e nas casas vizinhas tornam meu desejo algo impossível. Percebo, assim, que não encontrarei o estado almejado se ficar em casa, e, com isso, vagueio pelos arredores de minha imaginação buscando lugares onde meu sonho possa se tornar realidade. O que encontro, na verdade, são lugares utópicos, acessíveis tão somente às minhas especulações, a exemplo de paisagens bucólicas nas quais não se vê um mísero ser humano; em outras palavras, imagens da natureza em sua plenitude, despida de quaisquer intervenções artificiais.

E quanto aos lugares físicos, obras dos sentidos? Nada, a não ser frustração. Isso porque chego à conclusão segundo a qual, vivendo em meio urbano, estou o tempo todo convivendo com a agitação, multidão e hiperestimulação das grandes cidades; é tudo muito rápido, movimentando-se num ritmo frenético e desenfreado. Disso, o silêncio se torna uma miragem, já que aquilo que nós, cidadãos civilizados, consideramos por ausência de sons, não passa de um barulho ensurdecedor aos menos habituados.

Aliás, refletindo sobre a situação, acho irônico abrir o dicionário e ver como sinônimos do adjetivo urbanidade, isto é, qualidade daquilo que é urbano, palavras como cortesia, gentileza e afabilidade; acho que todas elas se encaixariam melhor enquanto antônimos do respectivo adjetivo àqueles que, como eu, buscam por um mínimo de silêncio em suas rotinas.