EMOÇÕES QUE MOVEM
Hoje quero partilhar um pouquinho sobre as emoções, uma realidade presente em cada momento da vida de cada ser humano. A maior parte dos especialistas na área reconhece a existência de seis emoções básicas: raiva, desgosto, medo, alegria, tristeza e surpresa. Vou refletir rapidamente sobre três delas: a raiva, o medo e a alegria.
A raiva é a reação instintiva à injustiça ou à violência. Ela é por vezes inevitável diante da agressão injusta, mas é necessário ter o controle sobre ela. Pois a raiva é má companheira e má conselheira. Com a autoridade do afeto, não se toma uma decisão importante na vida, seja pessoal, coletiva ou profissional, movido pela raiva. Dar tempo ao tempo para obter novamente a razão, não permitir que a raiva se transforme em ódio, esse só destrói quem está sentindo em seu interior.
Outra emoção básica é o medo. O medo existe para a proteção da pessoa e para a própria superação. É ele que mantém a os seres vivos e afasta-os dos perigos que não podem ser vencidos. Mas não se deve ceder ao medo que paralisa o ânimo, que impede de tentar, por temer não conseguir. Não ter medo de perder.
Nenhuma vida é feita só de sucessos. Quantas vezes a pessoa não chega nem peto do sucesso que almeja. E mais: às vezes a pessoa pensa que ganhou e perdeu; e às vezes pensa que perdeu e ganhou. Uma vez foi feita uma pergunta a uma estudante se ela tinha medo de morrer e ela respondeu: “Não. Tenho medo é de não viver”. Pois viver é subir a bordo de uma embarcação que passa por muitos portos, por mares calmos e mares revoltos. É preciso ter velas e âncoras. Velas para ir à busca do próprio destino, com determinação e coragem. E âncoras para parar e aguardar o momento próprio, quando não seja a hora de lançar-se ao mar.
A vida, portanto, é feita de ousadias e de prudências. Ser prudente quando se impunha a ousadia, é ser menos do que se pode ser. E ser ousado quando se impunha a prudência, é pretender ser mais do que se pode. E como se sabe quando é um caso e quando é o outro? Se houvesse resposta para essa pergunta, todos percorreriam os mesmos caminhos e a vida seria aborrecidíssima. É nessas escolhas que cada indivíduo vive a plenitude da sua liberdade de ser, pensar e criar. É preciso, portanto, que cada um encontre a sua identidade, o seu ponto de equilíbrio, o seu sonho pessoal. Pois as emoções são inevitáveis em uma vida completa, só crescem além da medida se forem cultivadas.
Outra emoção é a alegria, matéria prima que alimenta a felicidade. É para isso que os seres humanos existem, este é o grande tributo à criação: ser feliz e ajudar os outros a serem felizes. Não há fórmula mágica nem receita única. Cada um é feliz à sua maneira.
A experiência da vida, no entanto, revela três caminhos que costumam dar certo: ser bom, ter ideal e ter boas amizades. Ser bom significa amar a si e amar ao próximo. Ser bom consigo mesmo. Ouvir o próprio coração, percorrer os caminhos que conduzam aos sonhos, desfrutar os prazeres legítimos que a vida proporciona. Não sentir culpa de ser felizes. Ao lado disso, ser bom para os outros. Ter amizades compatíveis com os sonhos e os ideais que almeja. Ter uma visão igualitária do mundo. Ninguém é melhor do que ninguém.
As pessoas são diferentes, e não umas superiores às outras. Cultivar bons sentimentos; racionalizar os impulsos negativos que existem no coração. Um dos milagres de que o espírito é capaz é o de transformar inveja em admiração sincera. Inveja é querer que o outro não tenha o que possa ter. Admiração é querer ter também, sem tomar indevidamente, o que o outro tem de bom. É sentir-se feliz com a conquista da outra pessoa. E dar os créditos, confessar a inspiração.
A inveja traz tristeza e inimigos. A admiração traz alegria e amigos. Por fim, ter ideal significa estar comprometido com o bem de todos, com o destino da condição humana. O constitucionalismo, que é esta fé racional que nos une, envolve a superação de uma visão egoísta do mundo, pela descoberta do outro, daquele que é diferente, que ficou de fora, que ficou para trás. O processo civilizatório é um projeto comum e consiste em fazer de cada um o melhor que possa ser. A causa da humanidade é assegurar o respeito à diversidade e promover a igualdade.
“As pessoas têm o direito de ser iguais quando a diferença as inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade as descaracteriza” (Boaventura S. Santos).
É isso aí!
Acácio Nunes