SONO, VOLTE PRA MIM
Têm noites em que o sono não vem. A nossa alma está inquieta e não deixa a cabeça descansar. A cama se traduz num tormento, viramos de um lado, do outro, e nada de relaxar. Parece que deixamos alguma tarefa em aberto, ou algo está por vir e isso nos atormenta. Tentamos controlar o fluxo de ideias, barrar esse vendaval interno, em vão. O sono às vezes ameaça se aproximar, mas na hora agá foge feito gato assustado. Nosso coração está aceso, gritando por novas energias, o tempo parece que se embebedou e não consegue ficar mais em pé. Uma angústia nos abraça, nos sentimos um tanto acuados, um tanto afoitos por algo que não sabemos bem o que é. Nem adianta tentar entender essa cor e nem, tampouco, se aventurar por decifrar seus entalhes, pode desistir. Estamos à mercê desse viés que resiste em dormir, vítimas de uma névoa maluca que esqueceu de se desarmar. Então, numa dada hora, o sono começa a nos lambuzar, entorpecendo aqueles galopes trôpegos que tanto nos chicoteavam. Aí começamos a sentir os calafrios do descansar, aquele gosto um tanto flácido que chamamos de bocejar. É quando a cama grita por nós, nos agarrando poro a poro até o sono aportar com toda pompa, com todo relampejar que só um sono tem. É o sinal que entregamos os pontos e que podemos, por certo, dormir. E assim nos permitir levar pelas amarras soturnas de um sono aveludado, chamuscado, bendito. Sono merecido que nossa alma se curva para agradecer, sorrindo como só uma alma é capaz de sorrir.
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