Das coisas mais simples
Hoje, enquanto dirigia-me ao curso, refleti sobre ter tanta insegurança na rua. Não somente pela violência, como um aspecto que está infiltrado na sociedade, mas pelo fato de não aceitar meu próprio riso em meio à multidão. Pensei como é difícil eu aceitar falar comigo mesma em voz alta, por estar, sempre, cogitando a opinião alheia a respeito disso, o modo como o outro irá julgar a minha atitude, totalmente, humana em sua essência e convencional.
Estava ouvindo minhas músicas preferidas do momento e com uma vontade imensa de cantá-las abertamente. Mas, a vergonha e o medo do julgamento estão ali, sempre, inseridos no grupo, como a dupla diabólica, acompanhando esse desejo. Até que passa um homem, que aparenta ter uns 20 e poucos anos, de blusa social, calça jeans branca, óculos de grau, com um headphone no ouvido, fazendo questão de mostrar como estava curtindo aquilo tudo. Cantando alto e fazendo gestos com as mãos, além das expressões faciais bem evidentes, reforçando a sua alegria, ao escutar aquele som, como se fosse o baterista e o cantor mais famoso do Brasil. Achei aquilo incrível. Por alguns instantes, eu imaginei: “como esse cara é corajoso e desinibido! Admiração total!.”
Talvez, tenha sido o estopim, para eu criar o mesmo ato de coragem e realizar o que o meu coração tanto almejava, por intermédio da alforria dos vocábulos pelas cordas vocais: meu canto. Assim, o fiz. Libertei as palavras. Libertei a melodia e todo o ritmo. Libertei o meu “eu” musical. E que liberdade! Ainda, para completar, conversei comigo mesma em voz alta no caminho de volta à minha casa. Até ri do meu próprio comentário sem graça. Desse jeito, o dia começou e terminou de maneira to-tal-men-te fe-liz.