TÔ DESTRUÍDA, MOÇO
A mãe não sabe o que dizer. Ninguém entende. E ela só repete:
-Tô destruída, moço. Era o meu filho, moço.
Grande é a dor da perda. Filho que foi assim, de repente. Tantas outras crianças foram e ainda irão num país de balas perdidas. Balas que acabam achando corpos inocentes, com tantos sonhos, mas futuros ceifados.
Chora a mãe e choramos todas nós, mães também, moço.
Ninguém consegue entender o que pensam as autoridades. Pessoas que devem nos representar, nos defender, lutar por nós, falam frases vazias, sem explicações, sem força, sem a preocupação com seu povo. Mais que isso, sem preocupação com o amanhã.
O que nos espera, moço?
Escutamos as notícias e, quase sem acreditar, choramos. Todos sentimos uma dor inexplicável, uma dor solidária, uma dor desesperada, uma dor que parece pedir socorro.
A quem, moço?
Olhamos para todos os lados e não vemos solução. O medo é maior. Estamos todos abandonados, entregues à própria sorte. Presos dentro de casa, se a bala não encontrar corpos inocentes dentro da suposta segurança do lar. Não sabemos mais o que fazer. E num coro com aquela mãe, cada um só sabe repetir:
-Tô destruída, moço...