Ampulheta
Ela desfila nas montanhas, despindo seu véu para quem queira ver. Deusa de corações ingênuos, plebeia dos tolos que habitam em seus castelos de papel. Das taças vazias mais letras, das canções sua voz. E o amor é o grão que cai de uma ampulheta. Prostitui o corpo, mas não a alma. Sanidade intacta, elemento ar, renascendo para si, trocando a pele após a batalha silenciosa. Sua espada é de paz, mas já feriu quem lhe enfeitiçava. Paralisada estava, contemplando o céu mudar de cor, o entardecer chegou e compreendeu que seu lar é a tenda, e habita onde sua mente é serena, pois pertence ao mundo. Vaga rabiscando seu nome, sempre notada. Curvou-se por reverência, mas não esqueceu sua identidade, guardou em seu baú lacrado, e amanheceu vestindo seus trajes, de volta ao seu destino. Tragou venenos e abusou do vinho, sorriu para si e jurou esquecer. A areia movediça é a justiça que aguarda, e a consciência o seu berço. Em sua bagagem leva redenção para pecados ainda não cometidos, respira desejos de aventura e sangue acelerado rasgando suas veias. Adormece sem pensar, pálpebras fechadas para sonhar, e amanhã, mais montanhas para saltar.