É preciso dizer adeus
Neguinha... esse é o nome que lhe deram. Fiquei sabendo de sua história e me emocionei. É uma história de amor que se repete, mas que nem todos vivenciam. O ator Richard Gere viveu um papel num filme americano que tinha uma história parecida. Um cachorro Akita, perdido nas ruas e por ele adotado, virou lenda na sua cidade, que testemunhou a espera inútil pelo seu dono na estação de trem, à qual ele nunca voltou por ter falecido no hospital após um infarto. O cão, fiel ao amigo e companheiro, passou o resto de seus dias na estação, esperando a sua volta que nunca aconteceu. Em nossa cidade também tem um caso de amor assim. Quem passar pelos arredores do hospital verá uma cadelinha acomodada mansamente na entrada ou nos passeios em volta, esperando serenamente o dono que também se foi. Dizem que ao passar mal, o homem veio de ambulância, seguido pela amiga fiel, que o viu dar entrada no hospital do qual ele nunca saiu também, pois faleceu e foi sepultado sem que a cachorrinha presenciasse o seu adeus ao mundo. Para ela, a qualquer momento ele vai sair andando, atravessar a porta de vidro e voltar com ela para casa. Por isso ela espera. Vigia a porta aguardando o momento de novamente receber o carinho e o amor daquele que na certa, foi o seu amparo na vida.
A vida tem dessas coisas. Às vezes a separação vem inesperadamente e leva para sempre alguém que amamos , cobre a nossa vida de luto e de saudades. Mas existe adeus. Choramos nos últimos momentos que passamos juntos, e a racionalidade nos sussurra baixinho que aquele alguém se foi para sempre. Mas nem sempre, dizer adeus é possível. Fico imaginando aquelas pessoas que perdem aqueles que amam de repente, em tragédias que não deixam um corpo para ser chorado. Como as vítimas de terremotos, de tsunamis , e tantas tragédias da natureza que engolem cidades de repente. Ou atentados como o 11 de Setembro nos EUA, onde tantos corpos se transformaram em cinzas, desapareceram para sempre dos lares de seus filhos, pais, companheiros e amigos. Para quem perde alguém dessa forma, a esperança continua viva no coração de quem ama, na dúvida de que um dia, quem sabe, a volta possa acontecer. A certeza da morte é a hora do adeus, quando a imagem sem vida ceifa nossas esperanças. É preciso dizer adeus para superar a dor da perda. Do contrário, ficamos presos à ultima lembrança em vida, como a Neguinha, sonhando com o sorriso, o afago e o calor dos braços à nossa volta. A vida passa a ser dividida entre a incerteza e a esperança, e as lágrimas que deviam ser de adeus , brotam mescladas de dor de saudade. Ou não brotam.... Ficam lá dentro do peito, geminando revolta, um grito abafado pelo adeus que não foi possível dizer.