O OUTRO LADO DO PARAÍSO

Em o Outro Lado do Paraíso, novela que a Rede Globo está mostrando no horário nobre, o autor, Walcyr Carrasco, nos dá um triste retrato do Brasil que estamos vivendo. A trama se passa em Palmas, capital do recém criado estado de Tocantins, onde a par das belezas naturais que a geografia do local nos apresenta, parece que ali se desenvolve uma Sodoma dos cerrados.
Na ótica do autor da trama, a corrupção, a maldade, o vício, a sacanagem e tudo que a gente pode pensar de ruim acontece em Palmas. Todo mundo é corrupto lá. Do juiz de direito ao diretor de hospital. Passando pelo delegado de policia, que além de corrupto, ao que parece, também é tarado, pois o autor tem deixado nas entrelinhas que ele andou molestando a própria enteada quando esta ainda era criança. E tem bordel, tem “ménage á trois”, com dois homossexuais e uma enfermeira safadinha,  tem pistoleiro profissional, tem garimpeiro safado que pega mãe e filha ao mesmo tempo, tem canalha e vigarista de todo tipo, tem cara que bate em mulher e até uma vidente atrapalhada que não consegue nem impedir que a neta vire prostituta. De quebra, os mocinhos, de tão bonzinhos que são, se tornam até patéticos. Imagine se faz sentido um dos mais bem sucedidos advogados do país deixar tudo no Rio de Janeiro e ir para Palmas, morar na mesma casa com uma cliente gostosa para ficar curtindo um amor platônico pela moça. E a Marieta Severo, heim? Acho que nem a Cristiane Brasil tomaria o lugar dela no pódio da ojeriza nacional. Vá ser bandida assim lá em Palmas. E a idiotizada mocinha da novela, personagem que o autor copiou do Conde de Monte Cristo, de quem que ela gosta, afinal?
Na Palmas de Walcyr Carrasco só os bandidos, até agora estão se dando bem. Como no Brasil, aliás. Aliás, tem ligação. O Rio de Janeiro também tem o seu lado paradisíaco. E a sede da Globo fica lá. O Brasil da Globo sempre foi o Rio. As conexões se estabelecem obrigatoriamente, ainda que elas pareçam não ter sentido. Não é a toa que o ano global começa com o Big Brother, uma das âncoras mais impressivas da imbecilidade nacional, que mostra bem o caráter macunaímico do nosso povo, recheado de heróis sem nenhum caráter, tudo fazendo apenas no sentido de se dar bem, dando gancho para aquela frase do Gerson, o nosso grande meia da Copa de 70, que em um comercial de cigarros dizia: “todo mundo gosta de levar vantagem. Leve vantagem você também”. Aliás, ninguém falou mais verdade do que ele, mas até hoje o coitado leva cacete por isso, mostrando o quanto ainda somos fariseus.
Voltando a Palmas, a Sodoma do sertão, é evidente que os maus serão punidos no fim. Todos os bandidos terão um final infeliz, senão não será novela, e não estaremos falando da Globo, a programadora máster da deseducação nacional. Na Sodoma bíblica Deus não achou nem um justo que justificasse a não destruição da cidade. Aliás, nem Lot e sua família, que Deus protegeu, eram gente fina, pois a mulher dele era descrente e virou estátua de sal; suas filhas eram tão depravadas que deram um fogo nele para fazer sexo com o próprio pai. Isso, em direito, poderia ser chamado de “abuso noxal”.
A Palmas do Outro Lado do Paraíso talvez seja o retrato do momento vivido pelo Brasil. No caso da novela o autor é um Deus que pode fazer tudo. E o mal, no fim, sempre acaba sendo derrotado pelo bem. Mas no caso do Brasil, quem poderia fazer esse papel? Sempre se disse que o nosso país era um paraíso. Quem poderá nos mostrar se ele tem, de fato, um lado bonito, diferente dessa coisa triste que a gente está vendo?