Morte Devagar - Martha Medeiros ( redimindo).
E uma amiga se aproximou toda contente, certa emoção no olhar, exibindo um papel que encontrara entre seus documentos. Tratava-se de uma tela da internet datada no rodapé com um Abril de quatorze anos atrás, destacando um texto atribuído a Pablo Neruda. Havia uma dedicatória assinada por mim, afirmando que ela, amiga querida, tardaria a partir desta vida de acordo com certos trechos do poema.
Se não reconhecesse a letra e a forma íntima de escrever, negaria tê-lo feito, não me recordo do motivo, do momento ou sequer do papel que parece ser tão precioso. Ainda assim estranhei algo, o texto me remeteu a um momento bem mais próximo, onde justificava uma imagem recebida pelo whatsapp. Na verdade não sou tão atenta, mas a reverência que o interlocutor recente tem pela gaúcha, acabou marcando sobremaneira a frase e os comentários da ocasião.
Breve pesquisa pelo Google esclarece que Martha Medeiros publicou-o no jornal Zero Hora no ano 2000, mas que pelos desmandos “da rede sem dono” já se habitou a vê-lo como de autoria chilena. Imediatamente me recordei de “Almas Perfumadas” da linda, profunda e sensível Ana Jácomo, inúmeras vezes vinculada a Carlos Drummond de Andrade. Seja como for, em mim, a ideia do poema permanece límpida e contundente: MORRE LENTAMENTE QUEM NÃO VIVE, QUEM SE ECONOMIZA!
Retornei à amiga afetuosa, me desculpando pelo equívoco tão antigo e complementando o texto, com o pensamento: Também morre lentamente, quem não aprende! Quem tal qual o papel bem guardado continua por quatorze anos a dizer que o autor é quem nunca o fez. Vamos aprendendo... e vivendo! !