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Mãe, fecha a porta.
Mãe, fecha a porta.
Desde pequeno ensinei meu filho que devemos bater antes de entrar e fechar a porta ao sair. Nunca imaginei que o feitiço fosse virar contra o feiticeiro. Pois agora, que está entrando na adolescência, desenvolveu um senso de privacidade com portas sempre fechadas, mal entro no quarto e ele já vem com um: "Mãe fecha a porta".
Na geração da minha mãe, em algumas famílias, para chegar aos quartos das filhas passava por dentro do quarto dos pais, havia uma vigília em torno das meninas. Os meninos, embora um pouco menos, também não tinham tanta privacidade, com direito a porta fechada, a alternativa para eles era na hora do banho, que geralmente era demorado. E, põe demorado nisso!
Não me importo tanto em fechar a porta, ou talvez me importe, pois sempre me esqueço de fechá-la, o que pode significar que, inconscientemente, me incomode. Ou ainda, que sou como os espectadores do Big Brother: apesar das reclamações sobre o programa, o Ibope é lá em cima, pois tem muita gente que gosta de saber o que os outros fazem.
Cheguei à conclusão que não me incomoda tanto fechar a porta do quarto, preocupa-me que ele feche a porta de si para nós, os pais. Espero que a porta do diálogo e do acesso aos seus pensamentos, projetos e vivências estejam sempre abertas para mim, não para controlá-lo, mas ser o suporte nessa longa caminhada que está apenas começando.
Quero poder dizer a ele que essa angústia, essa incerteza, esse sentir-se perdido no mundo, com tantas possibilidades, mudanças, escolhas e incertezas, eu também já senti. E, queria poder dizer que com o tempo isso passa, mas não passa, pois há quatro décadas, que tenho essa mesma sensação...
E lá vou eu mais uma vez ouvir: "Mãe, fecha a porta".
Nota da autora: Meu filho, um pré- adolescente, não gosta muito de ler. Numa tentativa de fazê-lo tomar gosto pela leitura, escrevi uma série de pequenos contos, frases e crônicas, que intitulei: "Para o meu filho Gostar de Ler". Essa é uma das crônicas.