Drummond, pedras e avalanche de inconformismo
No meio do caminho tinha uma pedra...
Hoje, mais uma vez me senti a mercê do descaso público.
Descendo pelo viaduto Armênia, vai o Thiago, meu filho, dirigindo o veículo no sentido Cebolão, pela pista principal da Marginal do Rio Pinheiros.
E aí, no meio do caminho tinha uma pedra... mas não era só uma pedra ali deixada pela empresa que está realizando uma obra, é que ela provavelmente, já teria causado algum dano em uma carreta mal conservada anteriormente.
Este veículo pesado em seguida, provavelmente por ter colidido com aquele artefato de concreto, essas peças de ajuste de meio-fio, deixou cair ali uma pesada peça de aço, parte do apoio da carreta, quando esta se encontra separada do cavalo mecânico.
Esta peça de aço, uma vez que o veículo de pequeno porte a atropelou, quebrou toda a parte inferior do veículo e praticamente adentrou no assoalho travando os pedais de embreagem, freio e acelerador. Ali ficou encravada, sendo arrastada até que o carro parasse por conta própria. Outro veículo leve também sofrera antes alguma avaria.
Alguns fatores de sorte, se assim poder-se-ia dizer, contribuíram para nada de mais grave acorresse. Pois aquela peça de aço simplesmente poderia adentrar o veículo e causar terríveis danos ao motorista ou acompanhante. Felizmente não ocorreu. Também, num sábado à noite, o tráfego era bastante reduzido, o que também contribuiu para que não colidisse com outros veículos até que parasse, praticamente sem controle.
Ainda hoje pela manhã eu havia feito um controle das rodas, corrigido os seus defeitos devido os constantes impactos com buracos das nossas depauperadas vias públicas, foi executado balanceamento, depois troquei uma lâmpada que estava queimada, ou seja, cuidei de alguns quesitos de segurança do veículo.
A velocidade também estava abaixo do limite permitido, não chovia, enfim, esses fatores todos somados, devemos entender como fortuna, porque felizmente nenhum maior mal pessoal ocorreu.
Aí o leitor pergunta, mas porque do descaso público?
Sim, o descaso público começa na licitação de uma pequena obra, na falta de controle responsável dos veículos de carga, cuja frota obsoleta, vai deixando seus pedaços pelos caminhos, causando acidentes, prejuízos, danos irreparáveis, mortes, etc...
Assim, vemos sucateada a matriz de transporte de cargas deste país.
Os pequenos veículos, ora, que se lixem os veículos de passeios, vão atropelando os pedaços deixados pelos irresponsáveis motoristas de veículos pesados.
Onde está o controle público, que deveria estar pensando justamente na segurança do cidadão? Muitas vezes estão multando nas esquinas, até por quem passa quase que obrigatoriamente por simples faixas zebradas das avenidas, como ocorreu recentemente comigo, locupletando os cofres de uma prefeitura que sequer tapa buracos.
Senhor Alcaide, como cidadão crente nos alicerces da sociedade organizada e ciente dos seus deveres e obrigações, paguei ontem aquela multa, aplicada porque, empurrado por caminhões, por volta das 21:00hs, passei por uma faixa zebrada na Av. dos Bandeirantes viu! Foram R$457,00 que o seu "marronzinho" sedento de vingança social aplicou, pagos com desconto, claro, o qual muito agradeço viu Senhor Alcaide? Isso significou bastante para um cidadão, que àquelas horas retornava cansado de um árduo dia de trabalho, usando seu próprio meio de transporte, já que não dispõe daquele público que paga mas não usa.
E o cidadão, rende-se assim à sua incapacidade de reagir, vitimado pela máquina pública que há muito insiste em penalizar, arrecadar, e nada devolver em benefício público, senão espetáculos dantescos de dólares, cuecas, mensalões, vereadores bandidos, deputados corruptos, senadores podres, vacas e crias...
Não vamos lembrar ainda dos recentes acidentes aéreos, mais um descaso de mesmas origens e de conseqüências por atacado, gerando impacto na sociedade pela quantidade, que não vê o mal maior ocorrendo no varejo, isto é, todos os dias nas rodovias deploráveis do meu país.
Também não quero manifestar que o país nunca foi tão mal representado e nunca teve tão medíocre corpo diplomático, que Rio Branco certamente deve se revirar na tumba.
Este é o cidadão considerado talvez “elite” pelo nosso presidente, que insiste dentro de sua enorme ignorância, imbecilidade e falta de um mínimo senso de que governar não é optar por uma ou por outra classe social, privilegiando esta em detrimento daquela e vice versa.
Esta classe dita “elite”, é a que paga dobrado suas contas, pela que usa, tais como: educação, transporte, segurança, saúde, justiça, previdência privada, etc... e que paga também pelos serviços públicos que não utiliza, e que deveriam prestigiar o cidadão com esses mesmos serviços, quais sejam: escola, ônibus, trens, metro, embarcações, aviões, polícia, hospitais, médicos, advogados, previdência...
Isso é que dói e corroem as nossas entranhas, saber que o povo já descrente e deseducado, sequer sabe escolher seus representantes, porque pensam em grande maioria ainda que votar é uma obrigação, quando votar, antes disso é “eleger” alguém para representá-lo.
E esses escolhidos nos devolvem essa enormidade de vergonha, exposta diariamente pelos nossos eleitos, que de forma descarada vão alinhavando mentiras e sustentações falsas de álibis e comprovantes que vão se desmoronando um a um no decorrer das pesquisas mais apuradas.
É assim, senhores, só para dar um pequeno aperitivo da desfaçatez com que nosso país, tão grandioso e cheio de riquezas, vai sendo vilipendiado pelos seus representantes, se não por fatos concretos de descarados roubos, também por incapacidade intelectual, mediocridade e omissão.
Aí estão amigos que se foram em recente acidente aéreo, e quantos não morrem nas estradas mal conservadas? Quantas vidas se vão, muitas vezes no auge da maturidade intelectual e pronto para devolver à sociedade.
Sabe lá o governo qual é o preço que os demais sobreviventes da nação tem que pagar?
Sabem lá, o quanto, eu e outros cidadãos honrados, já fizeram por essa terra, sem sequer poder sonhar com uma pequena tranqüilidade até os seus últimos dias?
Até quando isso terá que ser assim? Até quando as oportunidades serão ceifadas nesse país, até quando os jovens aqui preparados estarão vendo como única saída contribuir para a economia de outros países? Vamos continuar a exportar para os países mais abastados o pouco de cidadão preparados a custa do erário e sacrifício das famílias?
E sua visão, Senhor Presidente, míope pela mediocridade e com cataratas da névoa da ignorância e má formação do intelecto, preocupado em justificar sua própria exclusão, cego, julga não ser importante a formação educacional de seu próprio povo, quando sim, antes de tudo deveria é ser a mola propulsora que tiraria o cidadão da miséria, sem esmolar o pão que V.Sa. insiste em dar, como se fosse a solução, mas que está alimentando da mesma ilusão com que seus ancestrais sempre foram alimentados e assim, no cabresto, explorados até tornarem-se o pó do seu sertão nordestino.
Basta, estamos cansados, estamos nos sentido palhaços à margem da sociedade, a “elite”, Senhor Presidente, está sim se rendendo, morrendo de inanição, e V.Sa. não percebe, porque jamais perceberá, dado o atrofiado cérebro. Esta dita parte privilegiada de cidadãos, Senhor Presidente, não creio que morrerá sem espernear, creio sim é que ela reagirá, e nos seus estertores, deverá causar enormes estragos. Não que isto seja uma nova revolução, cujos lampejos já se fazem sentir em alguns ainda débeis movimentos, Senhor Presidente, mas sim porque, o sustentáculo de seu equivocado direcionamento econômico-social de governo, estará liquidado, e aí, simplesmente, não haverá quem pague mais a conta!!!!
Será que isso pode ser entendido?
Será que não temem por nossa frágil democracia?
Ou seria exatamente isso que querem os senhores defensores da sociedade manietada e acordeirada pelos chacais sonhadores latino-americanos, que vez por outra aparecem nos governos autocráticos e saudosos das muralhas que, por longos e sofridos anos, fadaram o leste ao ostracismo?
Assim, meus amigos, hoje contribui mais um pouquinho com a desfaçatez com que governam meu país, estarei pagando mais uma conta, estarei me atrasando em meus compromissos, já que fico sem condição de me locomover, causarei assim, indiretamente, um outro mal, que será a improdutividade, minha esposa, não poderá ir lecionar no estado, como sempre, porque o veículo lhe faltará para chegar à escola, seus alunos ficarão mais bestializados, “ y la nave vá...”
Assim, meus amigos, fui hoje requisitado involuntariamente para mais uma contribuição à nossa derrocada classe, a qual o nosso infeliz representante mor insiste em dizer “elite”, deturpando até mesmo esse termo, mas que sobre isto, não vou aqui tecer idéias...
Mas, foi por isso também que hoje me lembrei de Drummond...
E a grande pedra do meu caminho, está vindo rolando e provocando avalanche, destruindo o pouco que resta desse pobre e infeliz cidadão...
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade