A vida, a morte e o "eu te amo"

Certa vez entrei num bar e presenciei um diálogo, cujos personagens eram no mínimo inusitados, a Vida e o "eu te amo". Não pude deixar de prestar atenção, segue

Vida

- Oi,

"Eu te amo"

- Olá!

Vida

- Há muito tempo não te vejo por aqui.

"Eu te amo"

- Sim, quer dizer, deveria vir mais, mas você sabe, tempo corrido, trabalho, acabo deixando de lado e quando vejo já esqueci.

Vida

- É, eu sei, mas gosto de te ver aqui, me sinto bem. Você deveria vir mais, se esforçar. Sinto sua falta.

"Eu te amo"

- Eu sei, me desculpe, são muitos problemas e acabo esquecendo, estou em falta com você, mas prometo que vou melhorar daqui pra frente.

Vida

- Você sempre fala isso. Até aparecer algum outro problema, e você me esquecer.

- Eu sei, mas...

Quando o "eu te amo" pensava em dar outra desculpa, surge outro personagem na conversa, a Morte.

Morte

- Posso interromper já interrompendo?

"Eu te amo"

- Não, você não tá vendo que a gente tá tendo uma conversa?

Morte

- Pois é, sinto muito mas essa conversa vai ter que acabar.

Vida

- Ué, por que?

Morte

- Por que você vem comigo.

"Eu te amo"

- Oi? Como assim? Você vai levar ela pra onde? Com ordens de quem?

Morte

- Vou levá-la para um lugar muito melhor do que aqui, com ordens superiores.

"Eu te amo"

- Mas você não pode fazer isso!

Morte

- Posso e já estou fazendo.

"Eu te amo"

- Mas, a gente ainda tinha muita coisa pra falar.

Morte

- Meu amigo, a Vida estava aqui todo dia certo?

"Eu te amo"

- Certo.

Morte

- Eu via como ela sempre lhe aguardava cheia de expectativa, sempre em busca de um pouco de atenção...

"Eu te amo"

- É, eu sei, isso que falava agora que estou em falta com ela. Por isso você não pode levá-la, por favor, nos dê mais tempo!

Morte

- Sinto muito, ordens são ordens. Você teve todo o tempo do mundo, não aproveitou porque não quis.

"Eu te amo"

- É que eu achava que ela estaria sempre aqui me esperando. Não sabia que você viria.

Morte

- Pois é, achou errado, meu amigo. Eu não costumo mandar recados, sinto muito. Adeus!

E foi. O " eu te amo" ficou lá, sozinho, desnorteado, sem saber o que fazer, e eu pensando " essa morte é mesmo implacável."

Tamiris Pires
Enviado por Tamiris Pires em 31/01/2018
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