Assim ou ...nem tanto. 126
O Espanto
Era uma vez o espanto. Nascia de tudo o que era novo, grande, forte, desconhecido, aterrorizador. Nascia em qualquer surpresa quer fosse boa, má ou assim assim. Gabava-se de ser a mola real das paixões e de alguns amores até serôdios. Tinha vida efémera mas a virtude de renascer no coração de todos mas mais frequentemente no daqueles que , abertos à descoberta, nunca tinham visto descalça a Fada Madrinha ou sequer sabiam que havia madrinhas fadas. Por baixo do que é visto há um universo de valores, coisas raras, insuspeitáveis maravilhas. Arriscamo-nos na perspectiva de um espanto. Primeiro a vontade, a inibição, o que se lixe e, a seguir, o golpe, a mão a sangrar, o ai que dor ou, que bom é estar aqui contigo que vieste do nada ou de outro lado onde nunca passeei o espírito. Importa nada de onde és, de onde venhas, do que no teu lugar fazes para conviver com as urtigas. Quero-te assim, como se fosses virgem de tudo sem querer medir ou pesar dias que te foram. Quero-te, espanto, onde pouse a minha esperança, onde viva a alegria, onde me nasçam medos que a seguir saiba que são tigres de papel ou gatos da família de um que arrancou os olhos ao dono numa qualquer história mentirosa.